MALDADES...
Quando saem da fábrica, dá gosto vê-los a brilhar. Os motores afinados e reluzentes saem da linha de montagem sem uma única mancha de gordura. Trabalham com o rigor e a precisão de um qualquer relógio suíço! Os vidros límpidos, sem mácula de pó, nada escondem e tudo põem a nu aos olhos dos potenciais observadores. Os pneus, apesar da negritude, não conseguem esconder o esplendor. Cintilantes lembram-nos os raros diamantes negros. Com todas estas potencialidades e atributos são entregues num stand que para rapidamente o vender, exponenciam todas as suas propriedades...
Na condição de compradores, rendidos às evidências, com orgulho predispomo-nos a um sacrifício para adquirir um exemplar! Depois exibimo-lo aos familiares, amigos e colegas de trabalho. Durante semanas sonhamos com ele! Preocupados em preservar a sua beleza, sonhamos que sobre ele recaíram desgraças, machucões, mossas, amolgadelas, riscos e outras coisas mais. Tranquiliza-nos apenas o acordar ao sabermos que tudo não passa da fantasia de tenebrosos pesadelos.
Sempre que podemos, esmeramo-nos em mantê-lo límpido e reluzente até ao dia em que alguém por maldade, por vingança ou talvez não, nos fere a alma com um primeiro risco, por sina, profundo trespassando o verniz, a tinta, o primário e chega à chapa vincando-a. Uma autêntica facada na alma! Apenas queremos saber o porquê de tal acto? O que ganhou o autor de tamanha atrocidade?
Seguem-se dias de má disposição, noites mal dormidas! Montam-se e desmontam-se teorias conspirativas no sentido de descobrir o autor da perversidade...Só queremos saber quem fez aquilo! Não nos cansamos de exclamar...
Os dias iguais vão passando até que nos conformamos com a dor. Descuramos o brilho, esmorecemos tendo como argumentação a defesa da integridade física do carro. Quanto mais reluzente mais chama a atenção e maior é a probabilidade de voltar a ser alvo de um golpe baixo de um qualquer invejoso. Sim invejoso, porque entretanto já abandonamos a tese da vingança e da conspiração: – não fizemos mal a ninguém! Porque haveriam de se querer vingar?
Com o tempo, se formos cumpridores do código da estrada e da demais legislação rodoviária e tivermos a coragem de inverter a tendência da moda, resistiremos a carregá-lo com apetrechos, inovações e lâmpadas de mil cores por baixo e no interior. Resistiremos a furá-lo para colocar umas colunas mais potentes que até fazem estremecer os vidros. Resistiremos a furá-lo para a colocação de mais umas palas e umas asas sobre a bagageira. Com coragem seremos capazes de preservar a sua integridade física a menos que, por culpa «dos outros», nos aconteça uma desgraça, obrigando-nos com lágrimas nos olhos a despedirmo-nos deles por nada ou a troco de 25 euros pagos por um qualquer sucateiro.
Sendo o carro um fiel amigo que tantas emoções e recordações proporciona, para já não falarmos naqueles engates e naqueles acontecimentos sensuais que sem ele não teriam tido materialização, espanta a enormidade das maldades que sobre eles recaem. Basta recordar que por aí os vemos todos sujos, transformados em depósito de escória de pardal ou cobertos de lama. Como se não bastassem todos os ultrajes descritos, de quando em vez um qualquer transeunte que, por norma, não sabe o que é ter um carro, com o dedo no vidro escreve: – lava-me porco!
Na condição de compradores, rendidos às evidências, com orgulho predispomo-nos a um sacrifício para adquirir um exemplar! Depois exibimo-lo aos familiares, amigos e colegas de trabalho. Durante semanas sonhamos com ele! Preocupados em preservar a sua beleza, sonhamos que sobre ele recaíram desgraças, machucões, mossas, amolgadelas, riscos e outras coisas mais. Tranquiliza-nos apenas o acordar ao sabermos que tudo não passa da fantasia de tenebrosos pesadelos.
Sempre que podemos, esmeramo-nos em mantê-lo límpido e reluzente até ao dia em que alguém por maldade, por vingança ou talvez não, nos fere a alma com um primeiro risco, por sina, profundo trespassando o verniz, a tinta, o primário e chega à chapa vincando-a. Uma autêntica facada na alma! Apenas queremos saber o porquê de tal acto? O que ganhou o autor de tamanha atrocidade?
Seguem-se dias de má disposição, noites mal dormidas! Montam-se e desmontam-se teorias conspirativas no sentido de descobrir o autor da perversidade...Só queremos saber quem fez aquilo! Não nos cansamos de exclamar...
Os dias iguais vão passando até que nos conformamos com a dor. Descuramos o brilho, esmorecemos tendo como argumentação a defesa da integridade física do carro. Quanto mais reluzente mais chama a atenção e maior é a probabilidade de voltar a ser alvo de um golpe baixo de um qualquer invejoso. Sim invejoso, porque entretanto já abandonamos a tese da vingança e da conspiração: – não fizemos mal a ninguém! Porque haveriam de se querer vingar?
Com o tempo, se formos cumpridores do código da estrada e da demais legislação rodoviária e tivermos a coragem de inverter a tendência da moda, resistiremos a carregá-lo com apetrechos, inovações e lâmpadas de mil cores por baixo e no interior. Resistiremos a furá-lo para colocar umas colunas mais potentes que até fazem estremecer os vidros. Resistiremos a furá-lo para a colocação de mais umas palas e umas asas sobre a bagageira. Com coragem seremos capazes de preservar a sua integridade física a menos que, por culpa «dos outros», nos aconteça uma desgraça, obrigando-nos com lágrimas nos olhos a despedirmo-nos deles por nada ou a troco de 25 euros pagos por um qualquer sucateiro.
Sendo o carro um fiel amigo que tantas emoções e recordações proporciona, para já não falarmos naqueles engates e naqueles acontecimentos sensuais que sem ele não teriam tido materialização, espanta a enormidade das maldades que sobre eles recaem. Basta recordar que por aí os vemos todos sujos, transformados em depósito de escória de pardal ou cobertos de lama. Como se não bastassem todos os ultrajes descritos, de quando em vez um qualquer transeunte que, por norma, não sabe o que é ter um carro, com o dedo no vidro escreve: – lava-me porco!
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