BAGUNÇAS...
De vez em quando vivemos momentos que nos fazem sentir a impressão que o mundo vai desabar sobre a nossa cabeça. Por vezes a bagunça é tal que nos sugere não valer a pena continuar a acreditar na ordem, no progresso e desenvolvimento da sociedade em que vivemos... há dias e semanas assim! A semana que termina é bem um desses exemplos em que muito pouco podemos dizer para além de: «Que raio de vida!»
Infelizmente continua-nos a faltar uma capacidade conciliadora e regeneradora, capaz de nos fazer pôr os interesses gerais à frente dos interesses pessoais. São as guerrilhas, os ataques pessoais, as traições, as invejas que nos prendem e, apesar de auto-argumentarmos competências e capacidades individuais, não somos colectivamente capazes de as provar, de inovar nem de criar!
O mais grave de toda esta baça poeira reside no facto de determinados detentores de cargos públicos, cuja essência se prende com a gestão do bem comum, apesar de publicamente se terem comprometido e vinculado, constantemente esquecem o que os deve mover. Dói vê-los assumir posturas que prejudicam tantas pessoas apenas por questões de protagonismo pessoal ou político.
Difundir um discurso moralista e apresentar-se como o protótipo de pessoa séria e íntegra, mas ao mesmo tempo, na penumbra, fazer da traição arma e cultivar amizades estratégicas apresenta-se como a receita mágica para se ser bem sucedido, ter protagonismo e um percurso coroado de êxitos! É por isso que não causa qualquer espanto, nem ninguém fica escandalizado com o facto de a Organização da Transparência Internacional classificar Portugal em 3.º lugar na lista dos países mais corruptos da Europa. Em boa verdade espantaria se fosse o contrário!
Toda esta prosápia nos ocorre a propósito de um conjunto de situações insólitas que temos estado a vivenciar as quais vão das mais elementares às mais complexas.
1) Veja-se como foi gerido todo o projecto Portas do Mar, previsto para a Avenida Infante Dom Henrique, por sinal a via mais congestionada em termos de trânsito rodoviário nos Açores, fruto de todo um conjunto de factores que para ali leva a confluir milhares de pessoas por dia.
Conforme tantas vezes tem sido debatido, o maior problema da cidade de Ponta Delgada reside nas dificuldades de estacionamento automóvel, agravado por uma deficiente rede de transportes públicos. Por falta de diálogo e de sã convivência política decidiu-se pela sua construção nos moldes em que vai ser construído apesar de constituir mais um polo de atracção de população, congestionando ainda mais o já congestionadíssimo local. O parque de estacionamento que ali vai ser construído, exíguo, por sinal, para pouco mais vai servir para além dos taxis, autocarros de turistas e automóveis das empresas de aluguer que ali estrategicamente se vão posicionar. Pelos vistos nada disto parece importar a quem tem poder de decisão.
2) O Largo de S. João, depois de muita publicidade, começou a ser alvo de uma intervenção que muito pouco de útil trará à população pontadelgadense. O saldo entre o número de lugares de estacionamento existente antes da intervenção e o número que se vai obter com a construção do novo parque representa uma mão cheia de nada com a agravante de, contrariamente ao passado, quem quiser ali estacionar, ter de passar a pagar. Fruto da falta de diálogo e das disputas fúteis as obras estão suspensas com o pretexto de ali existirem alguns vestígios arqueológicos. Dificultou-se a vida a todas as pessoas que utilizavam o espaço sem um fim à vista! Pelos vistos nada disto é grave.
3) Encerrou-se o Serviço de Atendimento Urgente (SAU) junto ao Campo de São Francisco com o pretexto de o concentrar junto do novo hospital, tornando-o mais eficiente e rentabilizando os recursos. Decisores iluminados acharam que até era possível reduzir-se o horário de atendimento do SAU, neste esforço voraz de demonstrar que se consegue fazer mais e melhor. O resultado traduziu-se numa melhoria do espaço de atendimento mas também numa clara redução na qualidade do atendimento fazendo com que inaceitavelmente pessoas a necessitar de cuidados médicos tenham esperado das 14H00 até às 23H00 por uma consulta!
Como os responsáveis por toda esta deplorável situação, na prestação de cuidados de saúde básicos, estão preocupados com o bem-estar da população (?), nada de anormal parece que se vai passar nos tempos mais próximos...talvez até dê jeito àqueles quem têm consultórios privados e cobram 50, 60 e até 100 euros por consultas a «miseráveis» que ganham 400 e 500 euros por mês! Que diabo...Isto revolta qualquer cidadão por mais que viva à margem da sociedade.
4) A questão do concurso público para a escolha do novo director para o Museu Carlos Machado foi outro facto da semana que não passou em claro. A suspeição de falta de transparência no processo de selecção foi lançada logo de início. O próprio candidato em causa, aos microfones da RDP-Açores, contribuiu para o seu adensamento. Ficamos a saber que «o processo foi transparente e que foram produzidas actas fundamentadas e ratificadas (...)». As explicações parecem não ter sido suficientes para sossegar os mais cépticos... Pelo que se sabe, o candidato em causa não tem propriamente necessidade do cargo para sobreviver, nem para ter protagonismo. Porém é inegável que Duarte Melo é bem mais útil à comunidade e aos mais desfavorecidos como Padre do que como Director do Museu Carlos Machado. Para o desempenho do cargo fez já questão de demonstrar que tem ideias, mas por muito boas que sejam nunca deixarão de ser alvo de olhares e desconfianças...É o preço que vai ter de pagar!
5) Por falar em preço a pagar, voltamos ao princípio desta nossa crónica. A receita para se ser notável, dizíamos, é ter um discurso moralista e apresentar-se como o protótipo de pessoa séria e íntegra independentemente de o ser ou não. Cultivar amizades estratégicas e apregoar: «faz o que eu digo e não o que eu faço»! O caso de António Carrapatoso, administrador da Vodafone que conforme veio a terreiro devia, desde o ano 2000, 741.000,00 euros ao fisco, tendo a dívida prescrito por incompetência da máquina fiscal, é a mais excelente demonstração da hipocrisia que nos atormenta. Trata-se de um péssimo exemplo num dos homens mais requisitados pelas televisões para falar da crise económica e financeira, gestão e produtividade em Portugal. Se tivesse alguma dignidade, ficava-lhe bem pagar voluntariamente em vez de argumentar o indesculpável!
É por pessoas assim que o país está como está e que temos semanas para esquecer...
Infelizmente continua-nos a faltar uma capacidade conciliadora e regeneradora, capaz de nos fazer pôr os interesses gerais à frente dos interesses pessoais. São as guerrilhas, os ataques pessoais, as traições, as invejas que nos prendem e, apesar de auto-argumentarmos competências e capacidades individuais, não somos colectivamente capazes de as provar, de inovar nem de criar!
O mais grave de toda esta baça poeira reside no facto de determinados detentores de cargos públicos, cuja essência se prende com a gestão do bem comum, apesar de publicamente se terem comprometido e vinculado, constantemente esquecem o que os deve mover. Dói vê-los assumir posturas que prejudicam tantas pessoas apenas por questões de protagonismo pessoal ou político.
Difundir um discurso moralista e apresentar-se como o protótipo de pessoa séria e íntegra, mas ao mesmo tempo, na penumbra, fazer da traição arma e cultivar amizades estratégicas apresenta-se como a receita mágica para se ser bem sucedido, ter protagonismo e um percurso coroado de êxitos! É por isso que não causa qualquer espanto, nem ninguém fica escandalizado com o facto de a Organização da Transparência Internacional classificar Portugal em 3.º lugar na lista dos países mais corruptos da Europa. Em boa verdade espantaria se fosse o contrário!
Toda esta prosápia nos ocorre a propósito de um conjunto de situações insólitas que temos estado a vivenciar as quais vão das mais elementares às mais complexas.
1) Veja-se como foi gerido todo o projecto Portas do Mar, previsto para a Avenida Infante Dom Henrique, por sinal a via mais congestionada em termos de trânsito rodoviário nos Açores, fruto de todo um conjunto de factores que para ali leva a confluir milhares de pessoas por dia.
Conforme tantas vezes tem sido debatido, o maior problema da cidade de Ponta Delgada reside nas dificuldades de estacionamento automóvel, agravado por uma deficiente rede de transportes públicos. Por falta de diálogo e de sã convivência política decidiu-se pela sua construção nos moldes em que vai ser construído apesar de constituir mais um polo de atracção de população, congestionando ainda mais o já congestionadíssimo local. O parque de estacionamento que ali vai ser construído, exíguo, por sinal, para pouco mais vai servir para além dos taxis, autocarros de turistas e automóveis das empresas de aluguer que ali estrategicamente se vão posicionar. Pelos vistos nada disto parece importar a quem tem poder de decisão.
2) O Largo de S. João, depois de muita publicidade, começou a ser alvo de uma intervenção que muito pouco de útil trará à população pontadelgadense. O saldo entre o número de lugares de estacionamento existente antes da intervenção e o número que se vai obter com a construção do novo parque representa uma mão cheia de nada com a agravante de, contrariamente ao passado, quem quiser ali estacionar, ter de passar a pagar. Fruto da falta de diálogo e das disputas fúteis as obras estão suspensas com o pretexto de ali existirem alguns vestígios arqueológicos. Dificultou-se a vida a todas as pessoas que utilizavam o espaço sem um fim à vista! Pelos vistos nada disto é grave.
3) Encerrou-se o Serviço de Atendimento Urgente (SAU) junto ao Campo de São Francisco com o pretexto de o concentrar junto do novo hospital, tornando-o mais eficiente e rentabilizando os recursos. Decisores iluminados acharam que até era possível reduzir-se o horário de atendimento do SAU, neste esforço voraz de demonstrar que se consegue fazer mais e melhor. O resultado traduziu-se numa melhoria do espaço de atendimento mas também numa clara redução na qualidade do atendimento fazendo com que inaceitavelmente pessoas a necessitar de cuidados médicos tenham esperado das 14H00 até às 23H00 por uma consulta!
Como os responsáveis por toda esta deplorável situação, na prestação de cuidados de saúde básicos, estão preocupados com o bem-estar da população (?), nada de anormal parece que se vai passar nos tempos mais próximos...talvez até dê jeito àqueles quem têm consultórios privados e cobram 50, 60 e até 100 euros por consultas a «miseráveis» que ganham 400 e 500 euros por mês! Que diabo...Isto revolta qualquer cidadão por mais que viva à margem da sociedade.
4) A questão do concurso público para a escolha do novo director para o Museu Carlos Machado foi outro facto da semana que não passou em claro. A suspeição de falta de transparência no processo de selecção foi lançada logo de início. O próprio candidato em causa, aos microfones da RDP-Açores, contribuiu para o seu adensamento. Ficamos a saber que «o processo foi transparente e que foram produzidas actas fundamentadas e ratificadas (...)». As explicações parecem não ter sido suficientes para sossegar os mais cépticos... Pelo que se sabe, o candidato em causa não tem propriamente necessidade do cargo para sobreviver, nem para ter protagonismo. Porém é inegável que Duarte Melo é bem mais útil à comunidade e aos mais desfavorecidos como Padre do que como Director do Museu Carlos Machado. Para o desempenho do cargo fez já questão de demonstrar que tem ideias, mas por muito boas que sejam nunca deixarão de ser alvo de olhares e desconfianças...É o preço que vai ter de pagar!
5) Por falar em preço a pagar, voltamos ao princípio desta nossa crónica. A receita para se ser notável, dizíamos, é ter um discurso moralista e apresentar-se como o protótipo de pessoa séria e íntegra independentemente de o ser ou não. Cultivar amizades estratégicas e apregoar: «faz o que eu digo e não o que eu faço»! O caso de António Carrapatoso, administrador da Vodafone que conforme veio a terreiro devia, desde o ano 2000, 741.000,00 euros ao fisco, tendo a dívida prescrito por incompetência da máquina fiscal, é a mais excelente demonstração da hipocrisia que nos atormenta. Trata-se de um péssimo exemplo num dos homens mais requisitados pelas televisões para falar da crise económica e financeira, gestão e produtividade em Portugal. Se tivesse alguma dignidade, ficava-lhe bem pagar voluntariamente em vez de argumentar o indesculpável!
É por pessoas assim que o país está como está e que temos semanas para esquecer...
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