RECONHECER OS ERROS...

Com algum impacto, foram reproduzidas as palavras de Carlos César, enquanto Presidente do Governo Regional dos Açores, dando conta da possibilidade de algumas das decisões políticas que o seu governo implementou ao longo dos últimos dez anos poderem vir a ser revogadas!

Conforme pudemos ler (Diário dos Açores, 28/03/2006, p. 2), Carlos César assumiu que «não compete aos governantes apenas cumprir aquilo que prometeram, executar obras tal como anunciado, compete igualmente ter capacidade de se adaptar à emergência de novas realidades.» A postura descrita demonstra vitalidade política, racionalidade e sobretudo coragem em assumir conscientemente que nem tudo foi decidido da forma mais correcta.

Também se lê da postura descrita, por via do apelo à necessidade de criatividade por parte da sua equipa e à própria opinião pública, um sinal claro para o não conformismo e não amarração às rotinas. Nada mais natural... Preocupante, para não dizermos grave, seria assumir uma postura contrária, demonstrando resignação, autismo, falta de bom senso e de uma visão política estratégica.

Por outro lado, convém, tal como preconizou Spencer, ter presente que as sociedades são dinâmicas e aglutinam todos os processos e resultados das actividades dirigidas pelos múltiplos intervenientes sociais, sendo sempre de esperar resultados com maior amplitude na sua complexidade em relação aos resultados conseguidos pela actividade de um único actor social.

O posicionamento político não pode ser mais do que uma parte da totalidade que intervém na vida social do homem, por princípio, melhorando-a. Não podendo ser a política a origem dos problemas e conflitos que nos assolam, apenas terá utilidade se conseguir pôr de lado o «meu e o teu» conforme defendeu Fernando Savater (1998).

As sociedades evoluem e estão em constante mutação. A região autónoma dos Açores de 2006 não é a mesma região de 1996. Muitas das necessidades desapareceram, outras transformaram-se e subdividiram-se, deram origem a outras a par de umas quantas que emergiram verdadeiramente da reorganização e dos novos modelos societários. Apesar disso, existe uma lógica definida a partir das partes que torna previsível a identificação de erros e consequentemente a inevitabilidade de os corrigir. Pior do que demonstrar vontade de não corrigir os erros seria não aceitá-los!

Os processos de aprendizagem provocam constrangimento, fazendo com que os indivíduos tendam a aprender e a moldar-se segundo as necessidades e padrões de comportamento socialmente aprovados e a evitar formas censuradas ou desaprovadas. Por isso o constrangimento é indispensável à sobrevivência política e das instituições em geral. Assim pudemos inferir que Carlos César soube ler nas entrelinhas e captar os requisitos essenciais da aprendizagem através da experiência, do contacto e da comunicação.

Com a mestria de um verdadeiro jogador de xadrez, consegue um chek-mate sobre os seus principais adversários políticos, transmitindo a mensagem clara de que, fruto da sua lucidez e capacidade de se auto-metamorfosear e de metamorfosear os outros, com a passagem do tempo, em função das necessidades, estará no cargo de Presidente do Governo Regional dos Açores pelo tempo que quiser!