PARA JÁ...

A cidade aturdida pouco a pouco vai voltando à normalidade. As equipas de higiene e limpeza da Câmara Municipal de Ponta Delgada, vão-se desdobrando para que a cidade volte a ser um local asseado. A chuva, entretanto caída, ajudou na limpeza e no abafamento dos odores rançosos das gorduras.

Sem qualquer dúvida que a cidade se tem caracterizado por estar limpa, com lastimáveis excepções. O esforço desenvolvido na recuperação de passeios e fachadas foi notável e digno de relevo, embora ainda exista muito por fazer.

A recuperação do jardim António Borges é bem um exemplo positivo em termos da qualidade ambiental, sendo digno de reparo. Ao longo de todo o tempo entre o presente e a data da sua reabertura ao público, fruto da intervenção e do acompanhamento que se conseguiu concretizar, aquele local manteve os níveis de qualidade e de segurança.

Um exemplo oposto é o do Cais da Sardinha. Pertenço à geração daqueles que se tornaram adultos com o convívio e o relacionamento interpessoal propiciado por aquele então agradável espaço. Recordo os dedos de conversa, os sumos e até alguns suculentos jantares de que ali desfrutei.

Hoje, ao passar junto ao Cais da Sardinha, sinto aquela dor própria da saudade e da nostalgia por ver o local, bem no coração da cidade, praticamente votado ao abandono. Foi ali, há já alguns anos, montado, ao nível da Avenida, um bar debaixo de uma espécie de tenda improvisada que desvirtua completamente o local, com o traço caracterizador de existir pouco asseio e uma fraca afluência de clientes ao local. Fraca em quantidade, mas também em qualidade e sempre me espantou que o cenário se tenha mantido constante sem que as autoridades competentes tenham intervindo no sentido de melhorar e dignificar o que no passado foi nobre e emblemático. Talvez não tenha sido por acaso que ali se desenvolveu uma rixa que acabou com a vida de um jovem nas festas do Senhor Santo Cristo de há dois anos.

Esta semana, num daqueles ataques de nostalgia, desci ao Cais da Sardinha e vim de lá embasbacado. Prontamente me arrependi da decisão tal era a imundície que coloria o sombrio local. Vi ali despojos de praticamente toda a actividade humana alguns dos quais com características de ali estarem há um tempo considerável, o suficiente para permitir afirmar que o local tem sido negligenciado por parte de quem tinha o dever e a obrigação de lá intervir.

Chocou-me particularmente ver da Avenida, da zona das paragens de autocarro, a quantidade de lixo que tinha sido arremessada para cima de um dos telhados daquele imóvel. Mal se conseguia ver o laranja das telhas cerâmicas. Entre o paredão da avenida e o edifício ali existente, onde se forma uma espécie de fossa, o lixo era tanto que custa acreditar como é possível existir uma autêntica lixeira a céu aberto, no centro da cidade, num ponto de partidas e chegadas de residentes e também de turistas.

De quem será a culpa de o Cais da Sardinha ter chegado àquela situação?
Entre as equipas de limpeza que diariamente limpam a zona, mesmo que apenas tenham a tarefa de limpar a Avenida, ninguém foi capaz de levar a informação superiormente sobre o que ali abunda? E o que fazem os supervisores de tais equipas?

Entre os milhares de pessoas que diariamente utilizam os transportes públicos, obrigados a diariamente conviver com aquele cenário, ninguém se sentiu incomodado ao ponto de ter denunciado a situação?

Para além de outras justificações, se mais não for, por respeito pelas nossas memórias colectivas, intervenham no Cais da Sardinha já!