SEM FUMO...

Em datas fixas, a 31 de Maio, comemora-se o Dia Mundial Sem Fumo e, a 17 de Novembro, o Dia Mundial do Não Fumador. A problemática do tabagismo parece ser verdadeiramente importante ao ponto de em cada ano civil a agenda reservar duas datas diferentes para o mesmo tema apenas separadas por cerca de seis meses.

A luta anti-tabágica é capital desde logo por a Organização Mundial de Saúde considerar o tabaco como uma das maiores dependências da população mundial. Nos Açores, durante a semana que agora termina, como é da praxe, falou-se do tema, todavia foi a primeira vez que na história dos Açores se pôde comemorar um 31 de Maio, ou seja, um Dia Mundial Sem Fumo, reflectindo sobre os dados científicos referentes à dimensão do problema nestas nove ilhas açorianas.

Mas, como dizíamos, por cá falou-se no assunto, contudo paradoxalmente foram apresentados dados relativamente à dimensão do problema no mundo, na Europa e até em Portugal continental, mas ninguém se lembrou de reflectir sobre os dados regionais existentes.

Desculpámos que a comunicação social regional se tenha esquecido dos dados regionais, tendo apenas utilizado o que chegou às redacções sem outras pesquisas. Todavia é imperdoável que os fazedores de opinião, sobretudo aqueles que se esmeram em demonstrar que são detentores das verdades absolutas, não tenham fundamentado as suas posições, com os dados existentes, ou, porventura, apresentando outros ainda mais actuais, para bem da comunidade.

Se os números regionais não são importantes para serem citados, para quê citar números de outras realidades tão diferentes da açoriana?

Para que a comemoração da data passe sem que se fale da dimensão do tabagismo nos Açores, sobretudo no sentido de apelar aos esforços para se travar uma luta que felizmente está na moda, não podemos deixar de nos associar a este combate, apresentando uma caracterização sociológica possível, obtida, em 2005, através de uma amostra por quotas, na ordem dos 4.000 açorianos, oriundos de todas as ilhas.

Estima-se que nos Açores existam 79.782 fumadores, ou seja, 33% da população, enquanto a média no continente, segundo o mais recente estudo da Universidade Nova de Lisboa, a pedido do Instituto da Droga e Toxicodependência, revela que os fumadores são 29% do total da população.

Entre os 79.782 fumadores, 54.730 são do sexo masculino(68,6%) e 25.052 são do sexo feminino (31,4%, demonstrando claramente que se continua a tratar de um fenómeno claramente masculino apesar da afirmação crescente do feminino, fruto das alterações sócio-culturais, resultantes de reivindicações dos movimentos feministas e das conquistas de afirmação e de participação das mulheres).

Contrariamente a Portugal continental, nos Açores, o meio rural, apresenta-se mais favorável à propensão para o acto de fumar, dado que ali 53,9% da população é fumadora (43.002) contra os 46,1% da população fumadora (36.780), residente em meio urbano.

Por ilhas, é no Corvo onde é maior a prevalência dos fumadores, com 48% do total da população, enquanto Santa Maria tem 44%, seguindo-se as Flores com 37%, S. Miguel com 35%, Pico com 34%, Terceira com 30% e S. Jorge, Graciosa e Faial com 28% da população. Por concelhos, o Corvo, com 48%, apresenta a mais elevada taxa de prevalência do consumo de tabaco, seguindo-se Vila do Porto, na ilha de Santa Maria, com 44%, Santa Cruz das Flores, com 42,1%, Lajes do Pico, com 40,8%, Nordeste, em S. Miguel, com 38,7%, Ribeira Grande, com 37,3%, Madalena do Pico com 36,1%, Lagoa, com 35,9%, Ponta Delgada, com 35,8%, Lajes das Flores, com 34,8%, Velas de S. Jorge, com 34,7%, Vila Franca do Campo, com 32,5%, Angra do Heroísmo, com 30,4%, Horta, com 28,4%, Praia da Vitória, com 27,9%, Santa Cruz da Graciosa, com 27,5%, Povoação, com 24,7%, Calheta de S. Jorge, com 23,3% e por último S. Roque do Pico, com 22,8%.

Relativamente à idade em que se começa a fumar, conclui-se que 31% dos fumadores, nos Açores, começam antes dos 15 anos enquanto, por exemplo, no Continente, a média dos fumadores que iniciam o consumo antes dos 15 anos é de 25%, demonstrando que nos Açores, em média, há mais pessoas a começar mais cedo a fumar.

Para que haja uma ideia da idade de início do consumo de tabaco, podemos afirmar que 97% de todos os fumadores açorianos começam a sê-lo antes dos 25 anos, sendo o agrupamento etário entre os 15 e os 24 anos, com uma média de 34,6%, aquele que apresenta a maior prevalência do acto de fumar.

Quanto às motivações do acto de fumar, constatou-se que 52% dos fumadores afirmam fazê-lo por prazer enquanto 28% afirmam fazê-lo por outro motivo não especificado. Com o objectivo de acalmar a irritação, encontrámos 11% contra 4% que procuram a desinibição.

O tabaco é sobretudo considerado um tranquilizador comportamental para grande parte dos seus consumidores, confirmado pelo facto de apenas 9,5% dos fumadores admitir já ter cometido um acto violento. As pessoas que fumam com regularidade e que não detêm outras dependências tendem a praticar menos actos de violência e menos crimes, facto este demonstrativo do efeito inibidor da frustração e da irritabilidade, conseguida com o tabaco, mas que por motivos óbvios tal argumento não pode servir para incentivar o consumo.

Os grupos de amigos surgem, assim, como o mais excelente meio de influência para o início do consumo de tabaco, conforme 39% dos fumadores, seguindo-se a escola para 35% dos fumadores.

O início do consumo de tabaco é tido pelos fumadores não como um acto de vontade própria, mas sim como um acto resultante da influência exercida por pessoas próximas, sendo os amigos/colegas, segundo 83% da população, o que não deixa de ser surpreendente.

O deixar de fumar está na moda, também nos Açores, visto que 36% dos fumadores açorianos já tentaram abandonar o tabaco, porém não se afigura como uma batalha simples para aquela população, dado que apenas 29% conseguiram abandonar definitivamente o consumo.

Se numa atitude meramente desculpabilizante o começar a fumar, segundo os inquiridos, depende sobretudo dos amigos/colegas, continuar ou deixar de fumar depende principalmente de cada um. Achamos que a opção deve ser sempre sua e por isso, talvez o melhor seja não começar ou então abandonar já!

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

no âmbito da realizaçao de um rabalho sobre o tabagismo venho por este meio perguntar-lhe se seria possivel informar-me quais as fontes que consultou acerca das esatstcas sobre o tabagismo nos açores. o meu email é filipamaciel@hotmail.com

obrigada

11 março, 2008  

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