ENCERRAMENTOS...

Temos assistido a uma verdadeira vaga de encerramentos em diversos serviços públicos, prestados à comunidade, em nome da racionalização dos meios e da rentabilização dos recursos, no fundo para reduzir os gastos do Estado. Foram encerradas centenas de escolas, seguiram-se as maternidades, a seguir os bancos de urgências e vêm aí os postos e as esquadras das forças de segurança.

É bom que o Estado assuma novas formas de gestão e de rentabilização dos recursos, todavia não pode nunca esse mesmo Estado, que constitucionalmente está obrigado a assumir a satisfação de um conjunto de necessidades básicas da população, do ensino à saúde, passando pela segurança de pessoas e bens, obrigar pessoas a deslocar-se mais de 50 e 100 quilómetros para terem acesso a cuidados elementares.

Racionalizar e rentabilizar não são objectivos fáceis de alcançar, mas também não temos dúvidas de que encerrar e concentrar é o caminho mais simples para lá chegar. Tão pouco queremos acreditar que essa seja a opção do Governo de Sócrates.

São conhecidas as assimetrias entre norte e sul, entre litoral e interior. São conhecidas as dificuldades em fixar a população em áreas do Portugal profundo que durante décadas foi abandonado pelo poder político, principalmente pelo pequeno peso eleitoral que representam. Prova-o o reduzido número de visitas de políticos de todos os quadrantes políticos a tantas dessas localidades.

Permitam-me um desabafo: – O meu pai é natural de uma freguesia encravada entre o rio Ôlo (afluente do Tâmega) e a Serra do Marão, a 17 quilómetros da Cidade de Amarante. Rezam as crónicas dos praticamente só velhos que habitam aquelas casas de xisto e cobertas de lousa da Freguesia de Rebordelo, Lugar de Mouquim, que nunca ali houve uma visita de monarca ou republicano, de socialista, comunista, centrista ou social democrata. Nunca conservador ou liberal ali se deslocou para saber o que pensa aquela gente da classe política, o que pensa aquela gente que, para sobreviver, continua a ter de comer o pão que o diabo amassou, o que pensa aquela gente do facto de só há bem pouco tempo ter uma calçada a revestir a única canada que dava acesso ao povoado, o que pensa aquela gente do facto de não ter água canalizada nem saneamento público.

Todos, mas todos os partidos políticos sempre se mostraram, ao nível da retórica, muito empenhados com as questões sociais do Portugal profundo, mas na realidade toda a preocupação que lhes conseguiram dedicar foi encerrar as poucas conquistas que o Estado Novo lhes tinha permitido efectivar!