NÃO AOS JOGOS DE VÍDEO!

Um estudo realizado pela Universidade de Ludwig-Maximilians e pelo Centro para Tecnologia Allianz concluiu que existe uma relação entre a prática de jogos de vídeo sobre competições automobilísticas e a propensão acrescida para comportamentos agressivos ao volante bem como para a sinistralidade rodoviária.

A conclusão não surpreende, sendo de enaltecer sobretudo a demonstração científica de um nexo de causalidade que a constatação quotidiana já se tinha encarregue de revelar.

Conforme foi aqui abordado neste espaço público, a propósito de um acidente mortal no concelho da Ribeira Grande que envolveu um piloto de rallye e uma moradora local, os espectadores de provas automobilísticas, após assistirem às competições, quando se sentam ao volante tendem a ter comportamentos pouco condicentes com a segurança rodoviária e excedem facilmente os limites de velocidade.

O mesmo comportamento se verifica com muitos dos pilotos fora dos troços das provas, daí que o legislador tenha tido o cuidado de fixar em lei que os participantes em tais provas fora dos troços ou pistas tenham de adequar o comportamento às normas gerais em vigor, sujeitando-se não só às sanções previstas para a infracção praticada, mas também a outras sanções desportivas, nomeadamente, à perda da licença para competir.

A Polícia, conhecedora dessa realidade, estrategicamente direcciona de vez em quando o seu efectivo para acções de fiscalização nessas alturas. Foi o que aconteceu há dois anos na Ilha Terceira, gerando grande contestação por parte de alguns dos visados na imprensa local que seguramente desconheciam o propósito da intervenção policial.

Tanto o estudo citado e publicado na revista Journal of Experimental Psychology: Applied, como um estudo anteriormente realizado pela auto-escola britânica BSM, com conclusões idênticas acabam por ser a fundamentação científica para a estratégia policial em nome da prevenção da sinistralidade rodoviária.

Voltando ao conhecimento empírico. Uma forma de conciliar o gosto por tais jogos com a segurança rodoviária seria anular o efeito negativo, invertendo a forma como tradicionalmente são concebidos aqueles jogos. Ou seja, em vez de somar mais pontos o jogador que mais disparates faz, que mais excede os limites de velocidade, que mais ultrapassagens perigosas efectua, deveria somar mais pontos o jogador mais assertivo.

Se fosse invertido o conceito de competição, o vencedor, com direito a uma jogada de bónus, passava a ser aquele que não excedesse os limites de velocidade, que praticava uma condução defensiva e que respeitava as normas de segurança. Assim os jogos de vídeo em vez de potenciarem a agressividade e a propensão para a sinistralidade poderiam constituir um modelo de formação e adequação de comportamentos nas estradas.

Pode ser que um dia destes a Comunidade Europeia, em nome da segurança rodoviária e do combate à agressividade, decida intervir impondo restrições à criação e comercialização de jogos de vídeo sobre competições automobilísticas. Aí talvez aconteça uma de duas hipóteses:

1) passaremos a ter menos jovens e adolescentes com vontade de jogar e logo menos obesos mantendo-se a insegurança na estrada;

2) passaremos a ter mais segurança na estrada embora com um número crescente de obesos que só mexem os olhos e os dedos frente a um qualquer ecrã ...