VITÓRIA ANTES DO TEMPO!

Conforme já aqui foi abordado, a União Europeia, em 2001, registou 50.000 mortes em acidentes rodoviários. Por ter sido considerada a dimensão da problemática inadmissível, os Estados Membros acordaram e definiram até 2010 reduzir em 50% o número de mortes.

Em Portugal, o número de vítimas mortais nas estradas, registado no ano de 2001, foi de 1.670, tendo-se fixado como meta as 835 vítimas. Devido aos conhecidos comportamentos dos portugueses durante o exercício da condução, pareceu-nos demasiado ambicioso, mas nada como acreditar!

Uma conjugação de factores relacionados com a crise económica que grassa no nosso país há mais de seis anos fez com que o número de mortos tivesse entre 2001 e 2004 decrescido 23%, atingido, em 2005, 1.094 vítimas e em 2006 as 850.

Ainda antes do final do ano, o Governo Português por sua livre iniciativa fez questão de anunciar que tinha antecipado para 2009 a meta das 835 vítimas fixadas para 2010. Pareceu-nos extemporâneo o compromisso, um pouco com sabor a cantar vitória antes do tempo, que pode trazer alguns amargos de boca!

A redução conseguida no número de mortos, nas estradas portuguesas, nos últimos anos, em bom rigor, não é o resultado de nenhuma campanha feliz da Prevenção Rodoviária Portuguesa, pois como se sabe foi «esventrada» pelo Governo e encontra-se moribunda. Tão pouco pode o Governo reivindicar para si qualquer mérito, na medida em que mais não fez do que dar continuidade ao trabalho que estava a ser desenvolvido desde 2001. Também não pode ser dado grande crédito àqueles que defendem que foram as alterações do Código da Estrada que entraram em vigor no início de 2005 que tornaram os condutores mais assertivos e logo menos propensos para a sinistralidade rodoviária!

Em nosso entender foi o pessimismo gerado pelos problemas económicos, que nos consomem há quase uma década, foi a necessidade de fazer «esticar» o dinheiro, que escasseia, fruto das sucessivas perdas de rendimento devido aos aumentos dos impostos, devido aos aumentos dos bens e serviços acima da taxa média de inflacção, devido principalmente ao excessivo aumento do custo dos combustíveis.

As pessoas tiveram a necessidade de gerir com maior rigor os orçamentos familiares e claro a utilização dos transportes públicos foi uma solução em detrimento dos veículos próprios que passaram a fazer menos quilómetros de estrada e mais horas parados.

Conforme o Governo tem feito questão de difundir, a crise está a terminar e a dar origem a um novo ciclo económico, mais favorável às famílias portuguesas. Aguardamos ansiosamente, para alívio das nossas mágoas e lamentos, todavia não temos a certeza se a recuperação da confiança, se o esperado aumento do rendimento das famílias não trará de volta maior utilização das viaturas particulares, maior número de quilómetros percorridos e um aumento do número de mortes na estrada.
Os dados da operação Carnaval/2007, com 10 mortes registadas, já nos trouxeram mais uma morte do que em 2006, podendo ser um indicador de preocupação e um travão ao cantar vitória antecipada do Governo ao ponto de atingir em 2009 a meta prevista para 2010.

É preciso ter muito cuidado e ouvir o que o povo diz com sabedoria «Cantar vitória antes do tempo dá azar»! Esperemos que não...esperemos que não, para bem de todos!