ATROPELAMENTOS

Apesar de as estatísticas, referentes à sinistralidade rodoviária, com o contributo dos condutores açorianos, principalmente nos dois últimos anos, apontarem para uma redução clara, chegam-nos indicadores recentes que dão conta de uma inversão da tendência ao nível dos atropelamentos dentro e fora das localidades.

Segundo a Direcção-Geral de Viação, em todo o território nacional, apenas entre Janeiro e Abril do corrente ano, na sequência de atropelados, 211 pessoas, vítimas dos mesmos, faleceram ou ficaram feridas gravemente e 1.654 ficaram com ferimentos ligeiros.

Durante o mês de Abril último, devido a atropelamentos dentro das localidades, oito pessoas morreram e 54 pessoas foram internadas devido a ferimentos graves a somar às 46 pessoas mortas por atropelamento fora das localidades.

Em 2006, foram atropelados, dentro das localidades, 6.248 pessoas, das quais 88 tiveram morte imediata, 5.612 sofreram ferimentos ligeiros e 548 pessoas ficaram gravemente feridas. Na travessia de passadeirasm, 13 pessoas encontraram a morte e 158 ficaram feridas gravemente.

Entre todos os indicadores apresentados, referentes a 2007, denota-se uma tendência clara de crescimento na ordem dos 10% em relação ao mesmo período em 2006, o que nos deve fazer reflectir, principalmente depois de ter sido divulgado que a segurança nas estradas portuguesas estava a aumentar.

As tendências descritas vêm demonstrar que, apesar da visibilidade social que a sinistralidade rodoviária conseguiu granjear sobretudo por força da comunicação social, não estão solidificadas alterações nos comportamentos dos condutores portugueses. O excesso de velocidade, a errada representação das capacidades individuais e dos demais condutores, a par de uma desvalorização da necessidade imperiosa do cumprimento das normas estradais e de convivência social, continuam a ser os principais obstáculos à rentabilização da segurança nas nossas estradas.

Tudo isto dá que pensar, servindo ao mesmo tempo para demonstrar que as mentalidades e os comportamentos constituem as variáveis mais difíceis de alterar numa qualquer sociedade. Nem mesmo a morte e o sofrimento dos demais, ainda que sendo nossos familiares ou amigos, parece ser suficiente para fazer reduzir a propensão para os comportamentos de risco.

O mais recente estudo efectuado em Ponta Delgada sobre comportamentos de risco e diversão nocturna concluiu que apesar das diferentes estratégias utilizadas em campanhas de segurança rodoviária, os indivíduos até aos 30 anos, que saem de casa à noite entre uma a três vezes por semana para se divertirem, em 26% das saídas, fizeram-se transportar em veículos conduzidos por condutor que se encontrava sob o efeito de álcool e/ou droga. Chegaram mesmo a assumir terem durante tais saídas nos últimos 30 dias conduzido embriagados, 9,5% dos inquiridos, e 5,8%, sob o efeito de droga.

Mesmo que para algumas pessoas os valores possam não ser muito expressivos, em termos de dimensão, não podem ser desvalorizados, dadas as possíveis consequências de tais actos.

Se nos últimos anos o pessimismo social, a crise económica e o custo dos combustíveis deram um contributo para a redução da sinistralidade, a tendência de crescimento económico, verificada em 2007, a par de um abrandamento no custo dos combustíveis em interacção com os comportamentos de risco, explicam o porquê do aumento dos atropelamentos.