ESTALOU O VERNIZ...

No DN de 08/Jun/2007, p. 11, o Comissário Jorge Resendes, dando voz ao Sindicato Nacional de Oficiais da Polícia (SNOP-PSP), querendo pôr um dedo na ferida, que, por ser profunda, colocou não só as duas mãos como também os pés em torno de uma questão que está muito para além das declarações prestadas àquele jornal, resumindo-se em nosso entender à crescente politização das polícias, em Portugal, verificada nos últimos dez anos.

Se numa primeira fase a reestruturação anunciada para as forças policiais, pelo então Ministro da Administração Interna, António Costa, criou mal-estar no seio da Guarda Nacional Republicana, sobretudo devido à extinção da Brigada de Trânsito e da Brigada Fiscal, e por outro lado satisfação dentro da Polícia de Segurança Pública que parecia sair reforçada, com a divulgação das propostas de Leis Orgânicas, notou-se uma inversão no sentido dos graus de satisfação, ao ponto do SNOP-PSP vir pedir a demissão de Orlando Romano da função de Director Nacional, enquanto principal responsável pela perda de influência da PSP.

É motivo para perguntar: o que se terá passado nos bastidores, para uma reestruturação, que inicialmente era favorável à PSP, passasse a ser-lhe claramente desfavorável? De forma simplista diz o SNOP-PSP que tudo se deve à falta de capacidade negocial de Orlando Romano e por isso deve ser demitido e substituído por um oficial de carreira.

Infelizmente os retoques de cosmética que têm sido ensaiados em termos de pseudo-reestruturações nas forças de segurança, cavaram marcas que não se apagam com a intervenção deste ou daquele director. Por mais capacidade que um director possua, sem a vontade política para uma real e objectiva inversão dos cenários, a direcção das polícias em Portugal continuará a ser uma máquina de corroer carreiras e personalidades. Por respeito aos visados, escusado é recordar os nomes dos que têm sido «tragados»...

Com excepção para a GNR, na qual foi sempre mantida uma linha ao nível da cúpula hierárquica, diga-se, bem menos permeável a influências político-ideológicas, pelo menos em termos de visibilidade, a chefia das demais polícias não tem estado isenta de purgas, protagonismos e outros ditames de falta de ética republicana cujo mérito se tem circunscrito ao reforço da confusão entre Polícia e Política que Hélène L’Heuillet de forma sublime põe a descoberto na obra «Alta Polícia Baixa Política».

Independentemente do que cada um de nós individualmente pensa sobre este ou aquele director, bem como das suas capacidades e conhecimentos para chefiar uma força policial, salvo raras excepções as demissões são «emendas piores que os sonetos»! Estamos convencidos que, com mais ou menos contestação, fruto do estatuto que possui junto de quem o nomeou, Orlando Romano vai levar o mandato até ao fim, o mesmo não se podendo afirmar quanto à recondução no cargo. Todavia o importante é que a reestruturação das forças policiais, a bem da segurança, se faça de forma serena, isenta, sem jogos de poder e de influências camufladas para que não seja mais uma oportunidade perdida...