COISAS ATÍPICAS...

Decorreu, na semana que agora finda, em Lisboa, no Pavilhão Atlântico, uma reunião de trabalho na qual participaram representantes dos 27 Estados Membros. O tema base da reunião foi a prática criminal, vulgarmente denominada de «carjacking», consistindo em síntese no roubo de viaturas.

As vítimas, na condição de condutores, são normalmente abordadas quando se encontram com os veículos parados em semáforos, em cruzamentos ou mesmo em parques de estacionamento, quando se preparam para entrar ou sair das respectivas viaturas, por dois ou três indivíduos, que, sob a ameaça de uma arma, deixam a vítima apeada levando a viatura.

Nos Açores, tais ocorrências são totalmente atípicas, embora já tenham ocorrido. Recordo um caso, ocorrido em 2003, em que um condutor na Lagoa do Fogo chegou mesmo a ser agredido e abandonado pelos agressores no local, levando-lhe a viatura. Em pouco mais de 24 horas, a Polícia recuperou o automóvel e deteve os meliantes.

Por cá, os crimes relacionados com os furtos/roubos de viaturas, em termos de taxas de sucesso, têm uma particularidade em relação ao Continente. Se em termos nacionais as taxas de recuperação das viaturas se situam nos 75%, ou seja, em cada quatro carros que são roubados um não nunca mais é localizado, nos Açores, a taxa de recuperação ronda os 100%, em pouco mais de 24 horas, e é bom que isto se saiba!

Naturalmente dirão os mais cépticos que tal êxito se deve à nossa dimensão e à insularidade, que não permite a saída com facilidade de um veículo, com destino a outras paragens, nomeadamente para desmantelamento e comercialização de peças.

Todavia, há que reconhecer que a rápida recuperação se deve sobretudo à pronta divulgação do pedido de localização do veículo através das redes de comunicação que, nos Açores, funcionando por ilhas, acabam por ser bastante mais simples e eficazes.

É precisamente na questão do sistema de comunicações policiais que reside o principal factor capaz de fazer aumentar as taxas de sucesso na recuperação das viaturas furtadas ou roubadas, mas de um modo geral em toda a investigação criminal, sendo precisamente aqui que é preciso investir.

É pura retórica sem qualquer consequência andarmos a realizar encontros, seminários, reuniões e palestras para a troca de experiências e definição de estratégias se de uma vez por todas não revolvermos o problema das comunicações e da partilha de informação criminal e este infelizmente, ano após ano, continua a ser o maior problema existente em Portugal e que entrava irremediavelmente a eficácia da actuação policial, apesar de haver sempre verdadeiros heróis que das migalhas fazem pão!