SEM PACIÊNCIA!
Uma criança de nove anos de idade, de regresso a casa depois de um dia de aulas, interpelou o pai com o seguinte: – a minha professora disse hoje durante a aula que Sócrates estava a ficar parecido com Salazar!
O pai, impávido com o sucedido, remeteu-se ao silêncio com um ligeiro encolher de ombros e olhou a criança de soslaio. Não satisfeita, a criança, insistindo na temática, instou o pai a explicar-lhe o que se passava com Sócrates em relação a um tal Salazar que tivesse levado a professora em plena aula a fazer tal afirmação.
De início o pai ainda pensou que a resposta, numa perspectiva pedagógica, seria complexa demais para que uma criança de nove anos a pudesse entender. Todavia, decidiu prometer uma resposta para mais tarde, reclamando pelo menos uma curta reflexão para evitar contribuir para o aumento da confusão da mente da criança.
O pai, numa típica atitude portuguesa, que os movimentos feministas não hesitam em chamar de machista, enquanto a mãe se entregava às lides domésticas, da mesma forma que todas as mães o faziam também durante o tempo do Estado Novo, pegou no jornal e reclinou-se sobre a velha poltrona, conivente com os comportamentos de pelo menos três gerações a avaliar pela data esculpida num dos pés de madeira.
Para além das notícias geradas em torno da violência, habituais segundo Michel Foucault num qualquer pasquim mesmo com dois séculos de existência, notícias de política doméstica da actualidade davam conta de profundas contradições. Letras gordas tresandando a tinta ainda fresca denunciavam o facto de professores estarem a ser pressionados para não atribuírem notas negativas aos alunos num claro esforço de melhorar as taxas de sucesso dos alunos. Noutra página, emergia a negação de tais factos por partes das hostes oficiais.
Numa coluna com mil caracteres, um cronista jurava de pés juntos, apesar de intolerável, ser verdadeira a denúncia, fundamentando com o sentido da pesada imposição política de que se os professores reprovarem mais de 10% dos alunos estarão obrigados à elaboração de um relatório justificativo das taxas de insucesso registadas. Indo mais longe, recordava como numa turma de 20 ou 30 alunos, uma margem de reprovações de 10%, ou seja, dois ou três alunos é profundamente escassa daí que os professores, para evitarem a exposição e a elaboração do referido relatório, optem por não atribuir nota negativa praticamente a ninguém.
Umas páginas mais adiante, um cartoon apresentava dois interlocutores a questionarem-se sobre o facto de os alunos deixarem de reprovar por faltas, podendo-se ler:
– Os alunos deixam de reprovar por faltas!
Retorquindo, uma figura esguia com óculos na ponta do nariz questionava:
– Então deixam de ser obrigados a ir à escola?
– Não, continuam a ser obrigados a ir à escola!
– E se não forem?
– São obrigados a ir!
– Mas, se mesmo assim não forem?
– Fazem uma prova no final do ano sobre o que aprenderam!
– Mas, sobre o que aprenderam onde? Questionava o esguia com óculos a condizer com a figura de intelectual.
Na última página, lia-se que dirigentes na função pública, desconhecendo totalmente os avaliados estavam, por pressão governativa, a alterar as notas dos subordinados, dos dois últimos anos para que não pudessem ser promovidos ou progredir nas carreiras, ao que parece para não aumentar a despesa do Estado. Enquanto isto outra notícia dava conta da nova frota de viaturas de alta cilindrada adquiridas pelo Ministério da Justiça, contrariando as restrições impostas pelo Ministério das Finanças e pela austeridade que consome, pelos vistos, apenas, a classe média.
Esgotado, finalmente aquele pai descobriu as motivações daquela professora. Sem paciência, preferiu não explicar nada à criança, não fosse acabar perseguido...
O pai, impávido com o sucedido, remeteu-se ao silêncio com um ligeiro encolher de ombros e olhou a criança de soslaio. Não satisfeita, a criança, insistindo na temática, instou o pai a explicar-lhe o que se passava com Sócrates em relação a um tal Salazar que tivesse levado a professora em plena aula a fazer tal afirmação.
De início o pai ainda pensou que a resposta, numa perspectiva pedagógica, seria complexa demais para que uma criança de nove anos a pudesse entender. Todavia, decidiu prometer uma resposta para mais tarde, reclamando pelo menos uma curta reflexão para evitar contribuir para o aumento da confusão da mente da criança.
O pai, numa típica atitude portuguesa, que os movimentos feministas não hesitam em chamar de machista, enquanto a mãe se entregava às lides domésticas, da mesma forma que todas as mães o faziam também durante o tempo do Estado Novo, pegou no jornal e reclinou-se sobre a velha poltrona, conivente com os comportamentos de pelo menos três gerações a avaliar pela data esculpida num dos pés de madeira.
Para além das notícias geradas em torno da violência, habituais segundo Michel Foucault num qualquer pasquim mesmo com dois séculos de existência, notícias de política doméstica da actualidade davam conta de profundas contradições. Letras gordas tresandando a tinta ainda fresca denunciavam o facto de professores estarem a ser pressionados para não atribuírem notas negativas aos alunos num claro esforço de melhorar as taxas de sucesso dos alunos. Noutra página, emergia a negação de tais factos por partes das hostes oficiais.
Numa coluna com mil caracteres, um cronista jurava de pés juntos, apesar de intolerável, ser verdadeira a denúncia, fundamentando com o sentido da pesada imposição política de que se os professores reprovarem mais de 10% dos alunos estarão obrigados à elaboração de um relatório justificativo das taxas de insucesso registadas. Indo mais longe, recordava como numa turma de 20 ou 30 alunos, uma margem de reprovações de 10%, ou seja, dois ou três alunos é profundamente escassa daí que os professores, para evitarem a exposição e a elaboração do referido relatório, optem por não atribuir nota negativa praticamente a ninguém.
Umas páginas mais adiante, um cartoon apresentava dois interlocutores a questionarem-se sobre o facto de os alunos deixarem de reprovar por faltas, podendo-se ler:
– Os alunos deixam de reprovar por faltas!
Retorquindo, uma figura esguia com óculos na ponta do nariz questionava:
– Então deixam de ser obrigados a ir à escola?
– Não, continuam a ser obrigados a ir à escola!
– E se não forem?
– São obrigados a ir!
– Mas, se mesmo assim não forem?
– Fazem uma prova no final do ano sobre o que aprenderam!
– Mas, sobre o que aprenderam onde? Questionava o esguia com óculos a condizer com a figura de intelectual.
Na última página, lia-se que dirigentes na função pública, desconhecendo totalmente os avaliados estavam, por pressão governativa, a alterar as notas dos subordinados, dos dois últimos anos para que não pudessem ser promovidos ou progredir nas carreiras, ao que parece para não aumentar a despesa do Estado. Enquanto isto outra notícia dava conta da nova frota de viaturas de alta cilindrada adquiridas pelo Ministério da Justiça, contrariando as restrições impostas pelo Ministério das Finanças e pela austeridade que consome, pelos vistos, apenas, a classe média.
Esgotado, finalmente aquele pai descobriu as motivações daquela professora. Sem paciência, preferiu não explicar nada à criança, não fosse acabar perseguido...
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