PERPLEXIDADES...

Em doze anos que acompanho os dados estatísticos referentes à segurança nas escolas, não me lembro de tamanha demonstração «em dar a volta aos números estatísticos» para que a leitura seja positiva, como aconteceu na conferência de imprensa conjunta do Ministro da Administração Interna e da Ministra da Educação, tendo por base a apresentação dos dados do programa «Escola Segura» no ano lectivo 2006-2007.

É um facto que todos os Governos se têm esforçado por dar sempre uma boa imagem das mais variadas problemáticas, num esforço para «dourar a pílula», o que até é compreensível! O problema é que por vezes o esforço de se querer dourar o quadro é tanto que o mesmo fica imperceptível. Ora foi precisamente isso que em nosso entender aconteceu.

Depois da troca de argumentos de há três semanas entre o Procurador–Geral da República, Pinto Monteiro, e a Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, sobre a maior ou menor existência de violência em meio escolar, em que Pinto Monteiro, e bem, criticou a enorme tolerância para com tais comportamentos a avaliar pelas baixas taxas de denúncia, a actual detentora da tutela da educação encetou uma fuga em frente procurando demonstrar o indemonstrável.

O esforço em demonstrar que os aspectos considerados negativos estão a diminuir e os positivos a aumentar foi tal que até surgiram novos agrupamentos estatísticos justificados com a distribuição às escolas de novas grelhas para registo das ocorrências. O resultado foi óptimo e deu cá um jeito! Comparar o que não é comparável serviu para se afirmar que o total de ocorrências dentro e fora das escolas diminuíram 36%!

Não há dúvida de que um dos mais fantásticos apetrechos da espécie humana é a capacidade de argumentação com especial relevo quando se vive em democracia em que todos podem opinar, mesmo que seja o mais profundo disparate, devendo por isso ser respeitável. Creio piamente que por mais crentes que sejamos nas nossas ideias, ideologias, crenças e valores, passar descaradamente um atestado de estupidez aos demais, no mínimo, dá azo a que se coloque as mãos nos quadris e se diga: «Alto e pára o baile!» ou «Sejamos sérios!»

Se olharmos a linha descrita no gráfico que ano após ano traça a evolução do número de intervenções policiais dentro e fora dos estabelecimentos de ensino portugueses, é claramente de crescimento. No ano lectivo de 2006/2007, as ocorrências em que as forças policiais intervieram cresceram 8,4%. Isto é um dado objectivo e não há volta a dar.

Será que termos tido 386 professores vítimas de ofensas por parte de aluno e/ou encarregados de educação, em 2005/2007, e 402, em 2006/2007, ainda não é grave? Será que os 322 auxiliares vítimas de ofensas só no último ano lectivo ainda não é grave? E que dizer do crescente número de alunos detectados na posse de armas em meio escolar, incluindo armas de fogo? (Por falar em armas e escolas) Lembram-se do mais recente caso ocorrido na Finlândia? São sempre casos isolados...

Será que alguém, com responsabilidade, anda a olhar para estes números com objectividade? Para quando os inquéritos de violência auto-revelada e de vitimização em meio escolar para se saber efectivamente o que anda a acontecer? Apesar de, felizmente, a grande maioria das escolas não possuírem problemas significativos de violência, indisciplina e insegurança em geral, o esforço em desvalorizar o que efectivamente existe é um erro e com consequências imprevisíveis...