A LIÇÃO DOS PROFESSORES!

De um momento para o outro começámos a questionar o poder de mobilização dos sindicatos portugueses. A questão não é nova embora hoje existam contornos que nos permitem ver para além daquilo que tradicionalmente era visível.

A greve dos professores, ocorrida esta semana, classificada como a maior de sempre, foi a mais clara demonstração da perda de influência dos sindicatos. Apesar dos sindicatos não terem a culpa toda, na realidade foram eles próprios os principais protagonistas da referida perda de influência.

Num passado não muito longínquo, assistimos à assinatura de acordos entre os sindicatos e os governos. Inúmeras foram as situações paradoxais vivenciadas e claro o resultado não poderia ser outro. Quando durante semanas e mesmo meses seguidos assistimos a discussões públicas de determinadas medidas a implementar, com os sindicatos tradicionalmente contra, sem que nada seja alterado, como se compreende que de um momento para o outro seja assinado um acordo entre sindicatos e governo?

Sem que ninguém tenha a preocupação de explicar o que foi negociado e acordado, o cidadão comum apenas pode ficar submerso num mar de dúvidas. E a primeira dúvida não pode ser outra senão pretender saber o que mudou para que num passo de magia os sindicatos passem da contestação para a assinatura de um acordo de entendimento?

Só para citar dois exemplos recentes foi assim em relação à lei do sistema de avaliação dos funcionários públicos e foi assim em relação ao sistema de avaliação dos professores.

No primeiro caso, o sistema de avaliação dos funcionários públicos, que curiosamente é bem mais desfavorável aos trabalhadores do Estado do que o sistema de avaliação dos professores aos docentes, tendo havido um acordo entre sindicatos e governo, não houve unidade entre os inúmeros sectores da administração pública para se pôr em evidência o referido acordo. Assistimos a uma clara conformação das partes!

No segundo caso, o sistema de avaliação dos professores, tendo também havido um acordo entre sindicatos e governo, assistimos à unidade de uma classe que mandou os sindicatos e os seus acordos às malvas e resolveu reivindicar aquilo que os sindicatos outrora não tinham sido capazes, levando-os de arrasto.

Como se denota, a questão da perda de influência dos sindicatos é bem mais complexa do que aparenta e está profundamente ligada à questão da representação dos cidadãos em geral. A crescente clarividência e esclarecimento dos cidadãos torna-os cada vez mais inconformados e exigentes para com aqueles que supostamente os deveriam representar. E, claro, os representados não se revêem nos representantes que os deveriam representar. Daqui nascem claras fracturas ao nível do envolvimento em lutas comuns, tornando a negociação cada vez mais difícil, mas quando se consegue a união de tantas vontades heterogéneas a mudança é inevitável. Esta é a grande lição que os professores estão a dar ao governo, aos sindicatos e ao país em geral!