ROTA? QUAL ROTA?

Em tempos que não posso precisar, mas que terão cerca de um ano prestei declarações à jornalista Ana Pereira da Agência Lusa sobre a impossibilidade de inclusão dos Açores na rota do tráfico internacional de droga.

As declarações então prestadas e agora abusivamente reproduzidas no jornal «Correio dos Açores» são corroboradas por inúmeras entidades que estudam e acompanham o fenómeno incluindo a própria ONU, e que apontam claramente no sentido de que os Açores não fazem parte das rotas internacionais de tráfico de droga.

A obra «O Poder da Droga na Política Mundial» de Yann Moncomble descreve a rota do haxixe entre o norte de África e o sul da Europa; a rota da heroína que foi durante anos através da Europa Central deslocalizou-se para o Norte de África e a rota da cocaína depois da travessia do Atlântico em direcção ao norte de África segue para o Sul da Europa considerada a principal porta de entrada.

A própria ONU através dos seus relatórios tem chamado a atenção para as deficiências de controlo no norte de África da Costa Atlântica e para o crescimento do tráfico de droga naqueles países, tendo ali recentemente realizado uma conferência internacional alertando para a possibilidade de alguns Estados africanos se transformarem em narco-estados. Têm mesmo sido disponibilizados meios para que ali se combatam as redes de tráfico internacional.

A bibliografia sobre o assunto é abundante e nem é necessário ler os relatórios nacionais para se concluir que os Açores sem margem para dúvidas não fazem parte da rota internacional do tráfico de droga o que não quer dizer que não existam embarcações mais ou menos isoladas e por motivos diversos possam navegar ao largo e que até eventualmente possam escalar os Açores. Aliás a excepção apenas serve para confirmar a regra.

Com quase uma década de leitura de relatórios e estudos sobre a matéria não conheço um único texto que fundamente a inclusão dos Açores na rota internacional de droga a não ser uma ou outra pretensa notícia de um ou outro/a jornalista que teima em colocar os Açores na rota internacional de tráfico de droga!

Convém recordar que não é por se fazer algumas apreensões de vulto como a registada esta semana de 300 quilos de cocaína num veleiro que terá passado por cá que os Açores fazem parte da rota internacional de droga. É preciso haver rigor e fundamentação naquilo que se diz!