CRISE EM TEMPO DE CRIME!

Inúmeras têm sido as associações abusivas da prática criminal às crises económicas. Numa lógica de raciocínio simples, pensar-se em crise económica é pensar-se em dificuldades e sem que se perceba muito bem porquê, estabelecendo-se uma correlação, acredita-se que, como forma de ultrapassar tais dificuldades, os indivíduos têm maior propensão para a prática criminal.

A associação da crise ao aumento da prática da criminalidade não passa de uma conclusão simplista, tão simplista como aquela de que a simples presença de polícias na rua faz diminuir a criminalidade.

Se assim fosse, Portugal, enquanto país da cauda da Europa, cuja situação económica se tem caracterizado praticamente ao longo das últimas décadas por ser de crises atrás de crises, com problemas graves ao nível da pobreza e de atraso nos índices de desenvolvimento humano, deveria destacar-se com taxas de criminalidade acima da média europeia. Sendo precisamente o inverso que se tem registado, países como a Alemanha e a Inglaterra, apesar de bastante mais ricos e menos vulneráveis às crises económicas, têm apresentado taxas de criminalidade muito superiores às portuguesas.

Estudiosos como James Wilson, Julien Dray, Sebastián Roché, entre tantos tantos outros, têm demonstrado que não existe uma correlação entre crises económicas e a prática da criminalidade.

Também Alain Peyrefite, em 1977, num relatório elaborado a pedido do então presidente francês Giscard d’Estaing, pôs a nu a falsa evidência de que as crises económicas provocam um aumento da prática da criminalidade, ao constatar que, apesar dos excepcionais indicadores económicos e da abundância de emprego em França, no início da década de 70 do século passado, a criminalidade apresentou taxas de crescimento bastante significativas.

Outra das demonstrações de que não existe uma correlação entre crises economias, desemprego e a prática da criminalidade são os dados estatísticos referentes aos Açores. Apesar de aqui se ter vivido, na última década, anos seguidos de pleno emprego, com taxas de desemprego residuais e crescimento económico assinalável, as taxas de criminalidade têm apresentado de forma consecutiva índices de crescimento.
Se dúvidas existissem, aqui está mais uma demonstração de que as motivações da prática criminal, de tão complexas, qualquer tentativa de explicação linear e simplista está ferida de morte!