FUNDAMENTAÇÃO PRECISA-SE!

O clínico Luís Mendes Cabral, conforme foi divulgado esta semana que agora finda, enviou uma carta aberta ao presidente do governo regional a denunciar que a medida de colocar desfibrilhadores em locais públicos para serem utilizados em caso de alguém ter uma paragem cardíaca, nos moldes em que foram colocados, é uma falácia em termos de utilidade prática.

Depois de a decisão da região adquirir os referidos desfibrilhadores ter sido amplamente anunciada, o que veio a público demonstra que estamos perante uma situação caricata na medida em que é passado um atestado público de incompetência a um decisor político que antes de decidir a forma de gastar o dinheiro público, no mínimo, deveria pelo menos fundamentar a sua decisão sustentada em pareceres técnicos.

Não quero acreditar que a aquisição dos desfibrilhadores foi meramente uma decisão política como foi, por exemplo, a decisão de se construir um lar de idosos na ilha do Corvo, onde ainda hoje, passados vários anos, se desespera na procura de um utente para ocupar aquelas digníssimas instalações.

Pela argumentação científica do clínico Luís Mendes Cabral, em relação à prestação de emergência médica e mesmo em relação à organização do 112, onde apenas ficou esquecido que existe um outro intermediário no sistema (é um polícia que atende todas as chamadas para o 112 e só depois reencaminha para os bombeiros,…), ficou claro que nesta matéria alguém ousou dizer que «o rei vai nu»!

Talvez estejamos perante uma daquelas discussões sobre o que nasceu primeiro «a galinha ou o ovo?», ou seja, qual deveria ter sido a primeira decisão: a constituição de equipas de cuidados médicos avançados dotadas de um médico ou enfermeiro como, por exemplo, acontece no continente com as equipas do INEM, ou a compra de desfibrilhadores cuja utilização nos actuais moldes pode ser inconsequente para o paciente?

Neste como noutros casos o importante é que haja humildade para se assumir as falhas e corrigir o que deve ser corrigido, sendo de extrema importância que não impere aquela tentação por posturas arrogantes que por vezes sobressaem entre os que pensam saber tudo e que podem bastar-se a si próprios!