GUERRAS E CUMPLICIDADES…

As comemorações dos 35 anos sobre o 25 de Abril de 1974 e os episódios recentes, que envolvem o Primeiro-Ministro e diversos jornalistas portugueses, relançaram o debate em torno da bem fadada liberdade de imprensa.

Conforme rezam as crónicas, são já nove os jornalistas que foram processados civil e criminalmente por José Sócrates por este se ter sentido difamado. O mais recente episódio desta novela de cordel foi «a declaração de guerra» do Primeiro-Ministro à TVI, durante a entrevista em directo à RTP1 que teve como resposta uma «declaração de guerra» por parte dos dirigentes da TVI ao Primeiro-Ministro.

Era bom que o principal actor desta nova novela tivesse boa memória para evitar cair nos mesmos erros que outros não souberam evitar. Depois de uma outra guerra com a TVI e o governo de então, que levou ao afastamento de Marcelo Rebelo de Sousa daquele canal televisivo e respectiva transferência dos seus comentários domingueiros para a RTP1, com as consequências políticas que o episódio teve e que são conhecidas, parecem ter razão os que defendem que na realidade a história se repete no tempo, embora com actores diferentes!

Todos temos presente os contornos que levaram à queda do governo de Santana Lopes e à consequente maioria absoluta de José Sócrates e em especial o peso decisivo que a comunicação social teve. Na realidade Santana Lopes valia bem mais do que a comunicação social fez crer na altura e pelos vistos José Sócrates vale bem menos do que a maioria absoluta que arrecadou com a prestimosa ajuda da comunicação social.

Na última campanha eleitoral para as presidenciais, os ataques do candidato Mário Soares à comunicação social, mais uma vez, puseram em evidência a certeza de que ninguém consegue ganhar eleições sem conquistar os órgãos de comunicação social. Também sabemos que ninguém chega a cargos de poder, de relevo se tiver a comunicação social contra si.

Perante as evidências, depois da comunicação social se ter tornado o primeiro poder, com os tristes episódios que de forma mais ou menos directa condicionam a livre circulação da informação, ou José Sócrates inverte a sua estratégia de relacionamento com os jornalistas ou então que se prepare para as derrotas políticas que aí vêm. Não sou determinista, mas que há coisas inevitáveis, lá isso há!