MAIS UMA VEZ!

Um estudo da Polícia Judiciária sobre os homicídios praticados em Portugal, entre 2000 e 2004, demonstrou que 40,5% de um total de 132 homicídios ocorridos na área de Lisboa foram praticados por cidadãos estrangeiros.

Ocorre-me à memória, a propósito da criminalidade praticada por estrangeiros, uma frase escrita na introdução de um livro que publiquei sobre o tema: «numa lógica estatística, basta que um imigrante cometa um crime, para se afirmar que os imigrantes contribuíram para o aumento da criminalidade em Portugal! Quer isto dizer que pretender afirmar o contrário é negar uma evidência.»

Se este fosse o problema, o assunto estava resolvido por si, todavia tudo não passa de falsas evidências, apenas se podendo lamentar que mais uma vez não se tenha sido rigoroso na arte de informar, dado que a divulgação estratégica de tais dados levanta inúmeras questões deontológicas, além de revelar a profunda ignorância que por aí grassa sobre as conclusões dos mais importantes estudos realizados em Portugal sobre o assunto.

É pena que assim seja e que mais uma vez se tenha procurado apontar o estrangeiro, sem mais, como o grande responsável pela prática da violência e em particular pelo aumento da criminalidade violenta registada em Portugal, esquecendo-se questões de rigor conceptual, esquecendo-se as fragilidades das conclusões obtidas através da análise estatística de espaços curtos, esquecendo-se que determinados espaços geográficos possuem concentrações populacionais que enviesam análises e permitem conclusões precipitadas.

É pena que se continue a ignorar o que a Escola de Chicago, com destaque para Znaniecki, demonstrou há quase cem anos em relação à propensão criminal dos imigrantes, estigmatizando o «outro» que conforme as demonstrações científicas até possui menos de metade da propensão para a prática de crimes do que os portugueses em geral!

É pena que alguma comunicação social, como de costume, tenha dado amplo destaque às conclusões do estudo da PJ citado, tendo ficado a dúvida se o interesse foi o de informar ou se foi outra qualquer coisa que por uma questão de princípio me recuso a qualificar!