A GRUTA DO CARVÃO…

Sou um admirador da Gruta do Carvão e não há amigo ou familiar que, de visita a S. Miguel, não lhe recomende a contemplação daquele monumento natural. Posso mesmo afirmar que tenho um interesse especial pelo subsolo, chego mesmo a questionar se não se trata de uma ligação à essência da nossa existência que gravita entre a vida e a morte, mas isso são discussões para outros espaços…

Voltando ao princípio. Gosto da Gruta do Carvão e já a visitei por diversas vezes como já visitei todos os espaços do subsolo visitáveis nos Açores, nomeadamente na Terceira, no Pico e na Graciosa com a particularidade de nesta última além do Algar do Enxofre ter visitado uma gruta desprezada com entrada num silvado a poucos metros de uma estrada regional.

Quando esta semana li na imprensa regional que se não fosse a intervenção do Governo Regional a Gruta do Carvão teria fechado ao público devido a dificuldades financeiras, de imediato deu-me um arrepio e lembrei-me da gruta da Graciosa como a demonstração do que poderia suceder à Gruta do Carvão. Felizmente, pelo menos desta vez, tal não vai acontecer. Todavia detive-me sobre as motivações das dificuldades de sustentabilidade da Gruta visitável.

Hoje não basta possuir um qualquer ponto de interesse turístico por mais singular que seja. A sustentabilidade de um qualquer ponto turístico não se consegue sem a sua promoção. Ora é precisamente aqui que reside, em meu entender, o problema da sustentabilidade da Gruta do Carvão.

Como sabemos, a entrada da Gruta do Carvão situa-se num caminho agrícola, que, embora confronte com a via rápida Ponta Delgada-Aeroporto, passa perfeitamente despercebida. Há inegavelmente uma deficiência de sinalização. Na Rua do Paim, sempre há uma pequena placa em madeira a assinalar. Deve ter havido ali a mão dos Amigos dos Açores e das questões ambientais(?), mas, que raio! Ponham ali uma placa que se veja! Sugiro mesmo que se coloque na Rua do Paim um outdoor com uma fotografia do interior da gruta a apelar à sua visita.

Há pessoas que moram nos Arrifes e que não sabem onde é a Gruta do Carvão. Se assim é, como querem que outras pessoas a visitem?

Recentemente tive uns familiares que vieram numa excursão de 200 pessoas aos Açores. Ao ler o itinerário, saltou-me à vista que constava uma visita ao Algar do Carvão na Terceira. Por que motivo, apesar da estada de três dias em S. Miguel, não estava prevista uma visita à Gruta do Carvão?

No último dia que permaneceram em S. Miguel, como tinham a manhã livre, fiz uma tentativa para os levar a visitar a Gruta. Chegado ao local, podia ler-se que as visitas eram só de tarde, embora para grupos mínimos de cinco pessoas fosse possível, pelo que liguei para um número de telefone da rede fixa. Atendeu-me uma jovem simpática que, prometendo fazer esforços para permitir a visita, minutos depois ligou-me a dizer que não conseguia contactar com o guia e como tal não nada feito! Foi menos uma receita de um grupo de cinco que não ficou na Gruta. Quantos casos como este já não aconteceram?

Não basta transferir dinheiro do erário público para manter a gruta visitável! É sobretudo necessário repensar-se toda a estratégia de divulgação e promoção. Fale-se com as escolas. Negocie-se com as agências de viagens, faça-se promoção da Gruta, no Aeroporto, nas Portas do Mar para que não haja um único turista que nos visite e não passe pela Gruta do Carvão. Escusado é dizer-se que é imperdoável haver açorianos que se prezem sem nunca terem visitado aquele monumento único!