COMO FOI POSSÍVEL?

Deveríamos estar muito felizes! Deveríamos sentir-nos os seres humanos mais felizes à superfície terrestre. Temos mesmo motivo para lamentar o facto de milhões de portugueses não serem capazes de reconhecer a enormidade da abundância da felicidade que nos rodeia. É mesmo de lamentar ver-se tantas pessoas cabisbaixas de nariz quase rente ao chão. Chega a ser confrangedor ver-se desvalorizada toda esta torrente de felicidade.

O problema maior parece residir no facto de as pessoas ainda não terem tido consciência do quão iguais nos direitos vamos passar a ser. Caramba! Isto é digno de ser celebrado e de nos deixarmos tomar pela alegria.

Finalmente alguém de um momento para o outro descobriu o que estava verdadeiramente a fazer falta a toda esta gente deprimida, cinzenta e constantemente a irradiar tristeza. Caramba! Alegrem-se e preparem os vossos fatos domingueiros para que ninguém falte à celebração.

Finalmente vamos ter ao vivo e a cores casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Já pensaram bem na importância deste facto? Na realidade nos tempos que correm não se consegue encontrar paralelo entre tudo quanto eventualmente faz falta à sociedade portuguesa. Desculpem qualquer coisa! Ponham lá de parte esse problemazito que há tempos vos atormenta. Isso não é nada quando comparado com o facto de as pessoas não poderem casar com outras do mesmo sexo.

Há uma tendência profundamente enraizada na sociedade portuguesa para acharmos sempre que o nosso problema é o maior de todos os problemas. Pura ilusão! Tudo não passa de um sentimento mesquinho de pensarmos que somos o centro do mundo e que tudo passa por lá…

Desenganem-se! Deixem de se lamentar! Questões como o desemprego, a corrupção, o péssimo funcionamento da justiça, a dificuldade no acesso aos cuidados de saúde, as baixas taxas de sucesso escolar, a falta de idoneidade de uma parte considerável dos nossos políticos, entre outras, são ninharias desprezíveis quando comparadas ao sofrimento experimentado por pessoas do mesmo sexo por não poderem casar.

Bem sabemos que pessoas do mesmo sexo já podiam viver em união de facto. Bem sabemos que já podiam apresentar as declarações de IRS em conjunto e até usufruírem de benefícios fiscais. Mas, caramba! Isso não é nada quando comparado com a felicidade que resulta do facto de as pessoas poderem casar.

Por tudo isto não se percebe como foi possível, com novecentos anos de história, termos esperado até ao século XXI para permitirmos o casamento entre pessoas do mesmo sexo?. Como foi possível termos perdido tanto tempo com coisas sem importância nenhuma e nos termos esquecido do filão da felicidade que é o casamento de pessoas do mesmo sexo?

Caramba! Deixem-nos ser felizes que de resto pouco ou nada importa…