QUEM ASSUME A RESPONSABILIDADE?

As conclusões, como facilmente se adivinhava, na sequência da decisão de terem sido mantidas em segredo até agora, não poderiam ser piores e ao mesmo tempo tão evidentes. Estou perfeitamente à vontade para afirmar de novo (do mesmo modo que o fiz em 2007 ainda antes da entrada das leis em vigor, basta que releiam o que escrevi a propósito) que a maior parte das alterações às leis penais foram um enorme disparate e custa a acreditar como foi possível que alguns supostos entendidos as tivessem defendido fundamentando com méritos que só eles conseguiam ver.
Pior ainda é que, se perguntassem a opinião (sem insultar ninguém) ao mais ignorante dos cidadãos em matéria de Direito sobre alguma das alterações então introduzidas, seria difícil que não fosse capaz de identificar o que agora o OPJ identifica como resultados indesejáveis.
Entre inúmeros exemplos, uma dessas alterações que o OPJ vem agora denunciar é o facto de a prisão preventiva não poder ser aplicada aos indivíduos que praticam furtos qualificados, entre os quais aqueles que fazem do furto modo de vida. Mas era necessário ser o OPJ a dizer isso? Qualquer cidadão deste país digno do nome aceitava que um indivíduo, apanhado vezes sem conta pelas polícias a apropriar-se indevidamente do trabalho dos outros, não fosse privado da liberdade como forma de fazer cessar os seus ímpetos?
Outro dos exemplos e que já toda a gente tinha constatado (à excepção dos responsáveis pelas referidas alterações) é que o sistema de justiça português não consegue condenar personalidades detentoras de poder. Mas era necessário um estudo do OPJ para se chegar a esta conclusão?
Recuando no tempo, recordo-me das intervenções que alguns políticos fizeram em defesa das leis penais, entre os quais o deputado Ricardo Rodrigues, um dos representantes da Região Autónoma dos Açores. Seria no mínimo dignificante que perante as evidências viesse a público assumir responsabilidades.
Desperdiçaram-se recursos, perdeu-se tempo e os resultados são agora piores do que até então. O sentimento de segurança da população portuguesa, de acordo com os estudos do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, é bastante pior do que em 2004.
Não se deu ouvidos às muitas chamadas de atenção de que se estava a legislar com base em pressupostos errados entre os quais o de que em Portugal se abusava da prisão preventiva.
Por que motivo não deram ouvidos ao Procurador-Geral da República ou a pessoas como o professor Costa Andrade que tinham estado ligados às anteriores reformas penais? Em nome de quê e de quem se vão fazendo tantos disparates?
Pelos vistos nada disto é grave e para cúmulo só falta mesmo o Sr. Alberto Costa ser reconduzido como Ministro da Justiça, ou quem sabe em alternativa o Sr. Rui Pereira!
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