DADOS SEM EXPLICAÇÕES PRECISAM-SE!

No primeiro dia do ano, fui convidado pela RTP-Açores para em directo, no telejornal, explicar a melhoria de resultados ao nível da sinistralidade rodoviária no país e nos Açores em particular. (Mas parece que já muito poucas pessoas vêem a nossa televisão.) Recordo que poucos dias depois escrevi aqui um artigo de opinião insurgindo-me contra um oficial da GNR que à comunicação social tinha reivindicado para aquela instituição o mérito dos resultados conseguidos.

Sempre afirmei que, nesta matéria, nenhuma instituição policial ou outra pode reivindicar para si o mérito dos resultados de uma qualquer estratégia. Bom! Em rigor até pode porque como diz o povo «presunção e água benta, cada um toma a que quer», contudo, em nome da sua própria credibilidade, se o fizer, quando os resultados não lhe forem favoráveis terá também que o assumir publicamente.

O que vai fazendo escola também por cá, infelizmente, é não faltar quem se apresse a usar as estatísticas para demonstrar eficiência e resultados de desempenho, sendo de lamentar que com a mesma rapidez não apareçam noutras situações menos favoráveis.

Aproxima-se mais uma quadra natalícia e logo mais um final do ano, períodos propícios a balanços em particular sobre a sinistralidade rodoviária. São sempre tantos os comunicados que os mais desatentos até podem pensar que nestes períodos existe uma maior propensão para a ocorrência de acidentes, o que ainda ninguém conseguiu demonstrar e não será fácil que alguém o consiga, porque além da contabilização do número de acidentes era preciso contabilizar-se o número de viaturas a circular nas estradas, o número de quilómetros percorridos e outras práticas associadas à quadra...

A questão da sinistralidade rodoviária é influenciada por tantas e tão díspares variáveis que qualquer tentativa de explicação de melhoria ou não de resultados estará sempre mais próxima do erro e do engano do que propriamente da verdade. Esta é uma daquelas áreas em que os intervenientes prestavam um melhor serviço à comunidade se nas suas intervenções se circunscreverem à apresentação dos números sem quaisquer outras observações remetendo para os estudos, para as abordagens científicas as explicações.

Sem dúvida que estamos perante uma problemática também profundamente condicionada pelas representações individuais e sociais subjacentes. É bem ilustrativo do que digo o caso de uma campanha que há vários anos tem estado a ser realizada na região, numa rádio local, na qual se pode ouvir: «Senhor condutor previna o acidente, se conduzir não beba»!

Ora cá está uma representação baseada num falso pressuposto. Pois conforme o mais recente relatório sobre a sinistralidade em Portugal, em apenas 5% dos acidentes registados, os condutores estavam sob o efeito do álcool, apontando mais uma vez a velocidade como a principal causa da sinistralidade. Perante isto, mais palavras para quê?

Vou de férias! Bom Natal e até para o Ano!