A NOVA MENTALIDADE AGRÍCOLA

Tornou-se público que a linha de crédito disponibilizada por iniciativa do Governo Regional ao sector agrícola com a finalidade de o ajudar a fazer face a eventuais dificuldades, resultantes da existência de uma putativa crise, não atraiu o público alvo a avaliar pela baixa procura registada.

Longe vai o tempo da construção de representações sociais de que os lavradores eram pessoas muito pouco esclarecidas, facilmente ludibriáveis e que poucos conhecimentos detinham para além dos saberes relacionados com a actividade, passados de pais para filhos.

Longe vai o tempo da desprestigiante acusação de os agricultores viverem à custa dos apoios estatais, de viverem acima das suas possibilidades e de utilizarem apoios concedidos para a mecanização das explorações na compra de jeep’s e de outros bens identificadores de um certo estilo de vida.

Quando os agricultores se encontram confrontados com a perda de rendimentos, resultante da desvalorização consecutiva do preço em particular do leite e da carne ao nível da produção, tudo fazia adivinhar que a agricultura vivia dias negros.
Na sequência da ideia profundamente veiculada de que a agricultura açoriana se encontrava numa enorme crise, era razoável pensar-se que a facilitação de uma linha de crédito para fazer face sobretudo a dificuldades de tesouraria seria uma medida apreciada pelo sector. Pura ilusão!

Seria assim se o sector agrícola continuasse a ser composto por pessoas com um perfil coincidente com a representação social. O sector agrícola mudou muito. Pelos vistos a população agrícola nos últimos 20 anos transformou-se completamente. Hoje é composta por uma população muito mais informada, muito mais esclarecida e logo muito menos ludibriável. Só assim se compreende que tenha dito «não, obrigado!» à dita linha de crédito.

Como é evidente, quando uma actividade não é rentável e não consegue produzir o suficiente para fazer face às despesas correntes, contrair empréstimos é o pior que se pode fazer na medida em que a médio prazo a situação ver-se-á agravada com o pagamento de juros. Uma coisa é um empréstimo para melhorar o exercício da actividade, tendo em vista um aumento da produtividade/ rendimento; outra coisa é obter um empréstimo para fazer face a despesas imediatas.

Ora foi precisamente isto que os agricultores demonstraram saber distinguir. Confrontados com a impossibilidade de aumentar a produtividade, devido à existência de excedentes de produção, em vez de contraírem empréstimos para folgar a tesouraria optaram por racionalizar as despesas. Ao contrário daquilo que o Estado tem feito…

Que grande lição de economia deu o sector agrícola à classe política! Nem o mais ilustre professor catedrático faria melhor!