A PRODUTIVIDADE MÉDICA

Foram recentemente divulgados dados estatísticos sobre a produtividade dos médicos no ano de 2008. Através deles conclui-se que os médicos do Sistema Regional de Saúde dos Açores possuem taxas de produtividade bastante mais baixas do que as do Sistema Nacional de Saúde. Enquanto nos Açores cada médico nos centros de saúde ou hospitais realizou 950 consultas a nível nacional foram realizadas 1518, ou seja, mais 40%.

Como sempre, os dados estatísticos são o que são e, claro, desprovidos de explicações, propiciam sempre as mais diferentes leituras. Pessoalmente não nos parece que os médicos nos Açores sejam menos trabalhadores e menos dedicados que a nível nacional. Parece-nos que a principal explicação para tal diferença reside entre a disponibilidade dos médicos para o exercício da actividade privada e obviamente o maior recurso da população aos cuidados médicos privados em detrimento dos cuidados médicos do serviço público. Fundamenta tal leitura o facto de ser precisamente em Ponta Delgada e Angra do Heroísmo, onde existe o maior número de médicos a exercer a actividade privada, que se registam as taxas de produtividade mais baixas.

Sabendo-se também que os tempos de espera por uma consulta médica ou por uma cirurgia, em geral, no Sistema Regional de Saúde dos Açores são mais baixos que a média nacional e que os valores cobrados pelos médicos pelas consultas na actividade privada por cá, são mais altos que a média nacional, levanta-se uma grande questão: Por que motivo estão os açorianos a preferirem a medicina privada em detrimento da pública a ponto de resultarem diferenças tão acentuadas na produtividade dos médicos da região?

Inúmeras hipóteses podem ser avançadas, para explicação da realidade, a começar por uma menor confiança no sistema público, por uma maior capacidade financeira por parte dos pacientes para suportarem os encargos com as necessidades de cuidados médicos, ou uma menor disponibilidade daqueles para esperarem pelo acesso a tais cuidados, entre outras.

Seja qual for a explicação mais viável para todo o cenário descrito, não há dúvida que de acordo com as determinações constitucionais em que todos devem ter acesso a cuidados de saúde prestados pelo Sistema Nacional de forma tendencialmente gratuita o desafio que se coloca ao Sistema Regional de Saúde dos Açores, num período em que na Administração Pública tudo deve ser gerido por objectivos, é o de fazer aumentar a produtividade dos médicos a par de um necessário aumento do grau de satisfação da população com os cuidados prestados.

Fica o desafio!