UMA DOENÇA PROTEGIDA POR TABUS
Comemorou-se no passado dia 1 de Dezembro mais um Dia Mundial de Luta Contra a Sida. Por sinal não falta fundamentação para se continuar a comemorar a efeméride e sobretudo para individual e colectivamente nos envolvermos nesta causa.
Desde 1983 já morreram, por terem sido infectados, 25 milhões de indivíduos em todo o mundo. Ou seja, duas vezes e meia a população portuguesa. Já foram infectados 60 milhões dos quais 34 888 só em Portugal, onde se gasta anualmente em tratamento dos infectados 200 milhões de euros.
Foram inúmeros os debates e as iniciativas em torno da problemática a que assistimos por estes dias. Ficou-me na retina a dúvida de um dos intervenientes numa das acções. Dizia-se: – Como é possível que decorridos 26 anos de informação e consciencialização da opinião pública, continuem a existir tantas ideias enviesadas e estigmatizantes em torno da Sida? Há quem ainda ache que o VIH/Sida se transmite através da saliva expelida com a fala ou através de um simples cumprimento!
É um facto que foi feita muita consciencialização e que foram gastos muitos milhões de euros, mas tudo isso é muito pouco quando comparado com o poder exercido sobre cada um de nós através dos dois maiores tabus da humanidade: O SEXO E A MORTE!
O VIH/Sida como nenhuma outra doença foi-nos dado a conhecer com uma ligação directa ao sexo e ao prazer pecaminoso que, resultante de uma certa crença na existência de um mundo justo, tinha como preço a própria vida consumida rapidamente pela morte.
Se a humanidade sempre teve tanta dificuldade em falar sobre sexo bem como sobre a morte não se pode estranhar que o VIH/Sida, imerso nestes dois tabus, cause tantas dificuldades de compreensão e tantos comportamentos estigmatizantes para com quem padece.
Dito de outra forma. Como desde o início ficou a ideia que se tratava de uma doença frequente entre consumidores de droga por via endovenosa e entre homossexuais e que causava a morte em pouco tempo, no subconsciente das pessoas ficou uma falsa fundamentação subjacente ao conceito de justiça e que por uma questão óbvia de conveniência perdurou.
O tempo encarregou-se de demonstrar os mitos que ajudaram a fazer perdurar os tabus e a propagação. O Sida passou a ser considerado uma doença crónica em que os pacientes quando tratados podem durar, 20, 30 ou quem sabe 40 ou mais anos. Se o maior grupo de infectados continua a ser o dos consumidores de droga por via endovenosa (42,5% do total), a transmissão maioritária por via de relação sexual homossexual passou a ser quase a excepção visto que hoje representa apenas 12,3% dos casos, enquanto a transmissão por via heterossexual passou a constituir uma frequência de 40% e 5,2% por via diversa.
Em termos de evolução, não deixa se ser irónico o sentido de justiça subjacente à propagação da doença. Os que acreditaram e se protegeram tiveram ganhos, ao passo que aqueles que persistiram, fundamentados pelo erro e/ou a ignorância, estão hoje muito mais ameaçados.
Desde 1983 já morreram, por terem sido infectados, 25 milhões de indivíduos em todo o mundo. Ou seja, duas vezes e meia a população portuguesa. Já foram infectados 60 milhões dos quais 34 888 só em Portugal, onde se gasta anualmente em tratamento dos infectados 200 milhões de euros.
Foram inúmeros os debates e as iniciativas em torno da problemática a que assistimos por estes dias. Ficou-me na retina a dúvida de um dos intervenientes numa das acções. Dizia-se: – Como é possível que decorridos 26 anos de informação e consciencialização da opinião pública, continuem a existir tantas ideias enviesadas e estigmatizantes em torno da Sida? Há quem ainda ache que o VIH/Sida se transmite através da saliva expelida com a fala ou através de um simples cumprimento!
É um facto que foi feita muita consciencialização e que foram gastos muitos milhões de euros, mas tudo isso é muito pouco quando comparado com o poder exercido sobre cada um de nós através dos dois maiores tabus da humanidade: O SEXO E A MORTE!
O VIH/Sida como nenhuma outra doença foi-nos dado a conhecer com uma ligação directa ao sexo e ao prazer pecaminoso que, resultante de uma certa crença na existência de um mundo justo, tinha como preço a própria vida consumida rapidamente pela morte.
Se a humanidade sempre teve tanta dificuldade em falar sobre sexo bem como sobre a morte não se pode estranhar que o VIH/Sida, imerso nestes dois tabus, cause tantas dificuldades de compreensão e tantos comportamentos estigmatizantes para com quem padece.
Dito de outra forma. Como desde o início ficou a ideia que se tratava de uma doença frequente entre consumidores de droga por via endovenosa e entre homossexuais e que causava a morte em pouco tempo, no subconsciente das pessoas ficou uma falsa fundamentação subjacente ao conceito de justiça e que por uma questão óbvia de conveniência perdurou.
O tempo encarregou-se de demonstrar os mitos que ajudaram a fazer perdurar os tabus e a propagação. O Sida passou a ser considerado uma doença crónica em que os pacientes quando tratados podem durar, 20, 30 ou quem sabe 40 ou mais anos. Se o maior grupo de infectados continua a ser o dos consumidores de droga por via endovenosa (42,5% do total), a transmissão maioritária por via de relação sexual homossexual passou a ser quase a excepção visto que hoje representa apenas 12,3% dos casos, enquanto a transmissão por via heterossexual passou a constituir uma frequência de 40% e 5,2% por via diversa.
Em termos de evolução, não deixa se ser irónico o sentido de justiça subjacente à propagação da doença. Os que acreditaram e se protegeram tiveram ganhos, ao passo que aqueles que persistiram, fundamentados pelo erro e/ou a ignorância, estão hoje muito mais ameaçados.
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