COMO ESCOLHER UM AUTOMÓVEL?

É possível afirmar-se que o Homem, a partir do momento em que lhe foi reconhecida a maravilhosa capacidade racional, esteve sempre sujeito à necessidade de escolha, à necessidade de optar entre um ou outro produto, entre um ou outro serviço, até entre uma ou outra mulher!

Um estudo recente, produzido por uma equipa de psicólogos liderados por Peter Todd, realizado na Universidade norte-americana do Indiana, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, demonstrou que relativamente à escolha de um parceiro, mulheres e homens continuam a comportar-se como se comportavam na pré-história, não evoluíram, nem tão pouco se deram ao trabalho de inovar. Ou seja, tal como na pré-história, hoje os homens escolhem as mulheres em função da sua beleza física, enquanto que as mulheres escolhem os homens em função das garantias de segurança e de um compromisso fiável.

Uma outra conclusão a que os psicólogos do referido estudo chegaram foi de que, apesar da evidência demonstrada na prática, homens e mulheres apresentavam dificuldades em admitir as motivações que tinham estado na base das escolhas.
Depois de ler as conclusões do estudo referido, dei por mim a pensar que o assunto encaixava perfeitamente no âmbito desta habitual crónica. Como acredito que os leitores desta publicação têm em comum o gosto pelos veículos a motor, parece-nos oportuno lançar o desafio de levar cada um ao exercício introspectivo de descobrir o que o move no momento de escolha de um automóvel?

Talvez nunca tenha pensado no assunto, dirão alguns. Outros mais racionalistas prontamente dirão: a relação preço/qualidade! Outros mais elitistas dirão: as questões estéticas! Os «bons pais de família» dirão: a segurança, nomeadamente, a estabilidade do veículo! Os mais irreverentes: a velocidade que consegue atingir! Os mais dados às artes de galantear: a capacidade de impressionar o sexo oposto! Os saudosistas: o facto de ser uma relíquia! Os mais materialistas, sobretudo nos tempos que correm, dirão ser determinante o consumo!

Muitas outras argumentações iríamos, certamente, encontrar se conseguíssemos adivinhar o pensamento daqueles que nos lêem, ou se nos déssemos ao trabalho de elaborar um inquérito para apurar as motivações que pesam no momento da escolha de um automóvel. A avaliar pelo estudo de Peter Todd, certamente iríamos encontrar bem mais motivações do que para escolher uma «cara metade»!

Confesso que me enquadro mais no agrupamento, composto por aqueles que escolhem um veículo em função da sua utilidade e respectiva estabilidade, desprezando a estética e a velocidade que atinge, porque no fim de contas nunca fui dado a pressas...
Não sendo uma questão consensual, admito que a interacção entre o homem e o automóvel e entre o homem e a mulher e vice-versa está marcada por pontos comuns, vingando mesmo a tese de que, tal como na escolha da «cara metade», a beleza e a segurança são, no fim de contas, as principais razões para escolher um carro.

É verdade, há mesmo pontos comuns... talvez seja por isso que o povo diz com sabedoria: «Carro e Mulher nunca se emprestam a ninguém!»

O REGRESSO ÀS AULAS

Ai está mais um regresso às aulas. Práticas repetidas, rotinas retomadas, oportunidades aproveitadas por uns desperdiçadas por outros. O governo, como se tem repetido com todos os governos, em todas as legislaturas, ano após ano, desta feita não quis também deixar de estar presente.

Pelo que pudemos constatar, a participação dos diferentes responsáveis políticos foi pensada ao pormenor, neste arranque do ano lectivo. É compreensível a visibilidade que se pretendeu atribuir ao evento, demonstrando de forma clara que o investimento na formação e em educação é sem qualquer margem para dúvidas o mais importante para um país que tem 10% da sua população analfabeta.

A estratégia mediática para o regresso às aulas deste ano, talvez idealizada pela Ministra da Educação e abraçada por todo um governo, centrou-se na distribuição de 2.000 computadores portáteis e ligações à internet em banda larga a alunos e professores, a baixo custo. Diga-se em bom abono da verdade, muito pouco para um universo de mais de 1.600.000 pessoas entre alunos e professores.

Se a filosofia e a mensagem subjacente à distribuição de computadores portáteis, em nosso entender, acaba por ser um sinal, apesar de escasso, positivo para o esforço de massificação da difusão das novas tecnologias, o mesmo não se pode afirmar em relação ao discurso político, sobretudo por ser contraditório, constituindo o mais cabal exemplo de demonstração de como as estatísticas podem servir para fundamentação de uma afirmação e ao mesmo tempo, precisamente, o seu contrário, se não, vejamos.

Foram apresentadas pelo governo, como uma vitória, as estatísticas demonstrativas do aumento da população escolar bem como do aumento das taxas de sucesso escolar. A oposição deu eco às estatísticas demonstrativas do aumento das taxas de abandono escolar. Quem terá mais razão? O que será mais importante afinal?

Em bom rigor, ninguém, nem governo nem oposição, está a fazer uma utilização adequada das estatísticas escolares visto que estamos perante variáveis dependentes embora respeitantes a indicadores diferentes que constituem um mesmo universo.

É sabido que as políticas sociais cujo usufruto está dependente da obrigatoriedade de frequência escolar por parte dos filhos menores dos beneficiários faz aumentar a população escolar e aumentará tanto quanto mais eficazes forem os mecanismos de controlo da aplicação desses mesmos apoios sociais. Por outro lado é também sabido que a população que apresenta maiores taxas de abandono é aquela que mais dificuldades tem de inserção em meio escolar, que maiores taxas de insucesso escolar detêm e paradoxalmente a que mais beneficia das políticas de apoio social.

Conforme se verificou, com o aumento do abandono escolar por parte daqueles que mais contribuem para as taxas de insucesso escolar, a par da permanência dos alunos sem dificuldades de inserção em meio escolar, o resultado apenas pode ser o aumento do sucesso escolar a menos que na escola tudo esteja a falhar, a começar pela dedicação dos professores, o que acreditamos não ser o caso!

Ficam os reparos, mas o mais importante é deixarmos o nosso apreço a todos os professores, os verdadeiros responsáveis pelo arranque de mais um ano lectivo sem incidentes, os quais lamentavelmente, no discurso político, ficaram esquecidos...

ETA EM PORTUGAL?

No plano criminal, as últimas semanas ficaram marcadas por mais dois casos mediáticos: a possível existência de uma célula da ETA, a operar em Espanha a partir de Portugal, e o caso da insegurança no Porto, associada às actividades de diversão nocturna.

Qualquer um dos casos é suficientemente importante para merecer a nossa preocupação e justificar uma abordagem neste espaço público de reflexão. Prometendo para breve uma abordagem ao fenómeno da insegurança nas noites do Porto, sem nos confinarmos em exclusivo àquele espaço geográfico, neste regresso às crónicas, optámos por nos centrar no caso da ETA.

Depois de duas ocorrências recentes envolvendo a ETA, as quais tiveram em comum o surgimento no local do crime de veículos automóveis com matrícula portuguesa, a questão que se levantou às autoridades espanholas responsáveis pela investigação dos referidos acontecimentos é a de saber se a ETA possui ou não uma base de apoio logístico, sediada em Portugal, como no passado possuiu em França?

As declarações vindas a público de um e do outro lado da fronteira são totalmente opostas. Os espanhóis asseguram que existem fortes indícios de a ETA estar a operar a partir de Portugal, enquanto o Director Nacional da Polícia Judiciária se apressou a negá-lo, tal como o Tenente-General Leonel Carvalho, Secretário-Geral do Gabinete Coordenador de Segurança.

As mudanças verificadas ao nível das acessibilidades entre Portugal e Espanha, a pressão policial franco-espanhola, a consciencialização de uma certa fragilidade organizacional, em Portugal, nos mais diferentes domínios, a par dos acontecimentos recentes, são indicadores fortes que servem de fundamentação às autoridades espanholas na convicção de que a ETA tem em Portugal apoio de retaguarda às suas actividades terroristas.

Como é público, a ETA, praticamente, desde sempre, operou em Espanha, dispondo de células de apoio logístico e de retaguarda em França. O esforço político e policial conjunto de Espanha e França contra a ETA causou um rude golpe no grupo terrorista, decapitando-o sobretudo através do controlo da rede de financiamento, tendo o Juiz Baltasar Garzón e a sua equipa desempenhado um papel preponderante.

O fracasso da tentativa de acordo entre o governo espanhol e a ETA e os episódios recentes reacenderam a luta contra a ETA e levaram já Garzón a escrever ao Procurador Geral da República, Pinto Monteiro, a propor a criação de uma equipa de investigação criminal luso-espanhola para apurar ou não a actividade da ETA em Portugal que, de acordo com os elementos do domínio público, se apresenta como uma evidência.

O esforço de cooperação policial a nível europeu, por imposição das directivas comunitárias, diz-nos que a referida equipa será uma certeza e com ela talvez se prove a aparente evidência. Aí quer o responsável da PJ quer o do Gabinete Coordenador de Segurança serão obrigados a dar o dito por não dito e a aprender que a importância dos cargos que desempenham para além da óbvia defesa dos interesses nacionais exige que sejam ponderados, racionais e não se deixem levar pela vontade e emoção do momento.

Oxalá eu esteja enganado...