MOMENTOS DE VIRAGEM...
Se para um ou dois indivíduos o casamento pode ser um momento de viragem, para um grupo será um momento de viragem a constituição de uma associação com a persecução de um ou vários objectivos e para um país poderá ser um momento de viragem a mudança de governo ou a implementação de uma nova política. Embora as decisões políticas de cada um dos países tenham de observar as tendências e estratégias internacionais, apenas pode ser considerado um momento de viragem à escala planetária quando os acontecimentos tiverem uma dimensão capaz de perturbar o normal curso da história.
Não basta arbitrariamente classificar um determinado momento de viragem. É essencial que efectivamente se assista a uma mudança. Ocorre-nos a propósito classificar o actual momento que vivemos em matéria de combustíveis como um momento de viragem à escala planetária, mas, para que tal classificação se materialize, é condição primordial que a esperada transformação ocorra. De contrário será uma oportunidade desperdiçada!
Têm-se multiplicado as cimeiras, conferências e seminários a nível internacional sobre as questões ambientais e inevitavelmente mais ou menos assumidas a questão dos combustíveis. Quase todos afirmam estar de acordo com a necessidade de se ter de fazer algo, mas na realidade, sobretudo por interesses económicos não se têm encontrado consensos a nível mundial.
Os problemas arrastam-se irremediavelmente com consequências cujo impacto de momento se desconhecem e quando forem mensuradas de muito pouco valerá o esforço porque os danos provocados possuem uma escassa probabilidade de reparação.
O mundo é hoje excessivamente dependente de petróleo, embora se trate de uma fonte altamente poluente e como tal prejudicial ao ambiente a escala planetária com a agravante de imperar a tendência de manutenção do actual quadro, principalmente devido à persistência do poder e dos interesses económicos que não têm considerado motivador pesquisar e explorar energias alternativas, eficientes e menos poluentes.
Fruto de erros políticos estratégicos de não se ter apostado nas ditas energias alternativas, o mundo está hoje prisioneiro dos países produtores de petróleo e por ironia do destino o desejado mundo estável está dependente da região mais instável do planeta! Os conflitos no Médio Oriente não dão sinais de abrandarem. A instabilidade política em tais países é constante.
A Venezuela, outro dos grandes produtores de petróleo, embora fazendo parte do continente americano, também conhece a instabilidade política e social, ameaçando não garantir com a regularidade desejada o abastecimento de combustíveis. Por questões diplomáticas os Estados Unidos da América foram ameaçados pelo presidente venezuelano, Hugo Chavez, de que o fornecimento de petróleo à maior potência do mundo poderá ser posto em causa.
Os países produtores de petróleo há décadas que se aperceberam da crescente dependência dos países não produtores e fruto dos lucros fáceis e das facilidades concedidas têm beneficiado em exclusivo apenas alguns sectores sociais e os grupos detentores do poder. Os lucros obtidos com o petróleo nos países produtores não têm potenciado sociedades solidárias, bem pelo contrário. Ali o fosso entre ricos e pobres é mais acentuado do que nas demais regiões do planeta. Ali a dimensão da pobreza é mais ampla sendo difícil encontrar paralelo nas demais regiões.
Se os países não produtores de petróleo enfrentam problemas graves em consequência dos preços em alta dos combustíveis, os países produtores não se apresentam socialmente a beneficiar das oportunidades de investimento dos lucros colhidos. Uma parte significativa de tais lucros são utilizados no financiamento dos conflitos que ali grassam beneficiando directamente os países produtores de armamento.
Do ponto de vista político e social as irracionalidades são profundas tanto nos países produtores como nos não produtores e com a globalização a intensificação dos antagonismos são uma ameaça.
Por tudo isto a actual crise energética pode muito bem ser um momento de viragem. Para tal acima de tudo é necessário privilegiar a abertura à inovação, ao investimento e à investigação, quadro este extremamente dependente da coragem política (conforme já nos habituámos) infelizmente: – coisa rara!
Há situações verdadeiramente incompreensíveis, em matéria energética, e só interesses obscuros e monopólios mais ou menos encapotados justificam a sua existência. Apesar de dispormos de recursos próprios, continuamos a oferecer resistência às centrais nucleares com os mais variados argumentos, temo-las ali em Espanha bem junto das nossas fronteiras! E mais ridículo ainda é o facto de importarmos de Espanha a electricidade produzida. Obviamente que o nuclear contém riscos, como há riscos em tudo e em todas as partes. Diariamente corremos o risco de morrer na estrada, mas também corremos o risco de morrer na cama. No nuclear como em todo o resto é necessário o rigor e o controlo permanente da situação!
A verdade é que não podemos continuar dependentes do petróleo e da vontade de cartéis... Temos de nos libertar porque não se explica que Portugal, um país que usufruiu de potencialidades ímpares, em matéria de energia solar, as desperdice sendo residual a utilização de painéis solares!
Como se explica que o país e em particular os Açores e a Madeira dispondo de mar e das potencialidades de obtenção de energia através das ondas as desperdice? Como se explica que no caso concreto dos Açores com a abundância de ventos, sobretudo em pontos mais elevados, durante todo o ano se desperdice toda esta energia? Como se explica que a exploração da geotermia continue a ser residual?
É preciso compreender que é aproveitando as oportunidades que se constroem os momentos de viragem...